NOSSA TOTAL FRAGILIDADE
(Ensaio sobre a cegueira)



O filme chama-se Ensaio Sobre a Cegueira (Blindness), tem a direção do brasileiro Fernando Meirelles (de O Jardineiro Fiel, Cidade de Deus) e é baseado no livro de mesmo título do Prêmio Nobel português José Saramago, lançado em 1995. O filme abriu o Festival de Cannes de 2008.
 
     O elenco tem Juliane Moore, Mark Ruffalo, Alice Braga, Danny Glover e Gael García Bernal entre tantos outros. As locações foram feitas nas cidades de São Paulo e Osasco (Brasil), Toronto (Canadá) e Montevidéu (Uruguai). 
        
     Conta a história de uma inédita e inexplicável epidemia de cegueira que se abate sobre uma cidade não identificada. Tal “cegueira branca” – assim chamada, pois as pessoas infectadas passam a ver apenas uma superfície leitosa – manifesta-se primeiramente em um homem no trânsito e, lentamente, vai se espalhando, o que resulta no colapso da sociedade. Aos poucos, todos acabam cegos e reduzidos a meros seres lutando por suas necessidades básicas, expondo seus instintos primários de personalidade, que poderiam passar a vida inteira escondidos. À medida que os afetados pela epidemia são colocados em quarentena e os serviços do Estado começam a falhar, a trama acompanha a mulher de um médico oftalmologista, a única pessoa que não é afetada pela doença, o que nos transporta para uma fábula que mostra a importância de se ter olhos numa terra de cegos. Acaba sendo uma metáfora sobre a nossa sociedade, o fato revelador de sermos todos “cegos”. 
 
     O início do filme dá-se em meio a um trânsito caótico, com todos impacientes e sem a menor preocupação e respeito com seus semelhantes. A primeira vítima da epidemia é ajudada a chegar em casa por um homem que acaba por furtar seu carro. Aí começa o grande drama que vai se abater sobre todos e mudar radicalmente suas vidas. Curiosamente, a segunda vítima da cegueira é o oftalmologista que atendeu a primeira vítima, o que leva a crer que o caso é contagioso.



     O diretor consegue convencer que somos todos cegos no nosso dia a dia, levando-nos a pensar o que aconteceria se isso realmente acontecesse. Se houvesse um acidente e toda essa estrutura social que temos como certa acabasse, como nós reformularíamos ou reimaginaríamos a forma como olhamos o outro e vemos o outro?
 
     É nesse momento que começamos a perceber a fragilidade da civilização, ou seja, quando uma coisa cai tudo o mais desmorona. Tudo se esvai. Você está cego e estar cego é aceitar, de cara, a humilhação, porque sabe que, às vezes, vai parecer idiota e fazer papel de tolo. Você precisa dos outros, os outros precisam de você. Eles são você. Nós somos todos iguais, apesar de muitos ainda acreditarem que não. A luta por comida chega a ser patética. Em meio a isso tudo ainda há espaço para chantagens, mostrando que o ser humano é capaz dos instintos mais bestiais quando acuado e também quando se sente um perdedor.
 
     Nenhum personagem é identificado pelo nome, pois, numa situação dessas perde-se totalmente a auto-estima e a identidade. Ao chegarem ao abrigo da quarentena são, simplesmente, o motorista de taxi, o médico, o consultor financeiro, a analista de sistemas, o morador de rua. Uma situação igual para todos, tão diferentes entre si, até aquele momento. 
 
     Afinal, quem somos nós e qual a nossa responsabilidade pela outra pessoa, pelo que fazemos todo dia? É uma das tantas perguntas que fica para que cada um encontre a sua resposta.
 
     Assista ao filme de Meirelles ou leia a obra de Saramago: sua visão de vida nunca mais será a mesma.
 
******
  
Arnaldo Agria Huss
Enviado por Arnaldo Agria Huss em 31/10/2009
Código do texto: T1896993
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.