CAMINHANDO E AMANDO

A vida, uma jornada que se alonga ou define-se apenas por alguns segundos, traça rotas diferentes para as pessoas. Há quem viva no atropelamento dos dias sem saborear os sabores e dissabores desse receituário divino. A vida é divina. Ela não foi elaborada nas pranchetas dos sábios. Não nasceu da alquimia dos povos antigos. Ela não foi conseqüência de uma mistura laboratorial humana como muitos vírus que escapam e arrebentam a saúde da população. O que vivemos é nosso. Não há como transferir o que sentimos e desejamos. Não há como fazer uma procuração e determinar quem passará pelos nossos caminhos, enquanto ficamos acomodados no sofá da sala. Sentir, desejar, experimentar, idealizar, amar, são meios que se manifestam em nós na busca que anseia encontrar. Encontrar o toque, a participação, a palavra, o gesto, o calor, a companhia, o sentido, de alguém que não consuma nossas esperanças e sonhos. A alma humana busca parceria diante das promessas dogmáticas de que houve alguém que entregou sua vida para que fossemos felizes. Se há fantasias ou mentiras nessas afirmativas, não importa, o que sei é que fomos moldados desde a genética primeira, a acreditar nessa possibilidade. E nossas escolhas nem sempre representam o que precisamos. Os possíveis parceiros escolhidos, que caminharão conosco, muitas vezes, não apresentam o essencial para uma parceria composta no amor para se viver na vida os desafios da dor. E o desafio é ainda maior, absoluto, quando percebemos que nem mesmo para se viver o amor eles são capazes. A convivência avança pelos anos. Há momentos de risos, alegria, discussões, incertezas, que nos empurram para essa roda que não pára e nem se importa com o questionamento da alma. E quando a alma questiona, a certeza aponta-nos o que já sabíamos e tínhamos receio de confirmar. Nossa parceria não foi aquela que esperávamos. Quem sabe como marinheiros de primeira viagem, aportamos em um lugar que oferecia embarcações frágeis e impróprias para se investir em um oceano misterioso e agressivo. Daí, reféns de nós mesmos, vislumbramos a possibilidade de se amar além das quatro paredes que nos cercam, doando ao mundo obtuso e sarcástico, às almas doentes e carentes, o amor que sonhamos viver na parceria que a sociedade batizou de casamento. A descoberta do amor verdadeiro, fora da parceria assinada e corroborada, grita, acena, canta e chora no silencio da alma que orquestrava um não e nossos ouvidos moucos não souberam entender. A descoberta do amor não pode ser tábua de patíbulo. Não pode ser prisão. Não há condenação para quem ama, ainda que, fora dos padrões estabelecidos. Padrões são como castas. Seitas. Dogmas. A vida é a manifestação divina da liberdade.

AKENATHON
Enviado por AKENATHON em 31/10/2009
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