Os pobres coitados

Os Pobres Coitados.

Dentre as milhares de músicas gravadas pelo Rei Roberto Carlos há uma na qual ele sugere: “conte ao menos até três, se precisar conte outra vez, mas...”, o que em outras palavras seria dizer: antes de agir ou de falar pense, pense no que vai fazer, no que vai dizer para não ter de se amargar depois sofrível arrependimento.

Tenho como hábito pensar e pensar muito antes de qualquer coisa e costumo contar não até três mas, até dez, o que ainda não me livra de dizer o que realmente gostaria de não ter dito, ou não dizer o que alguém merecia ouvir.

Fico com a última opção quando me recordo do episódio que passo a relatar, por não ter respondido à altura alguém do outro lado da linha.

Recebi, há alguns dias um daqueles telefonemas, em que a pessoa do outro lado lhe pede para confirmar o seu nome completo, endereço e tantas outras informações lhe prometendo um mar de vantagens como cartões de créditos, planos de saúde, ofertas para compras de mercadorias a preços baixos, assinaturas de revistas e tantas coisas mais que se não estivermos atentos podemos até nos iludir.

Não sou contra essas pessoas, pois sei que se trata de alguém que deseja garantir o seu emprego, e, por trás da mesma, quase sempre há um chefe a lhe cobrar e a exigir que venda o máximo do seu produto. É uma questão de sobrevivência.

Sei que a pessoa do outro lado precisa do seu cliente, e, nesse momento, eu o sou, logo, atendo com presteza, isto é, depois de constatar que não se trata de chantagem como o golpe do celular ou coisa parecida, tão comum nos dias atuais.

Alguém do outro lado nos oferece mares de rosas, nos diz que fomos selecionados entre os melhores clientes, para recebermos tais vantagens o que até me faz lembrar de um ditado popular "quando a esmola é muito o santo desconfia”.

O telefonema que recebi teve o seguinte teor: confirmado o meu nome completo, endereço e outras informações a minha interlocutora quis saber a minha profissão e eu lhe respondi , como sempre o faço com muito entusiasmo, entusiasmo este que logo se misturou com uma grande dose de indignação. Continuando o diálogo já estabelecido:

_ D. Diná, qual a sua profissão?

_ Sou Educadora.

_ É mesmo!? É mais uma sofredora.

_ Não estou entendendo.

_ Eu disse que a senhora é uma sofredora por causa de sua profissão.

_Você está completamente equivocada. A minha profissão é uma das mais sublimes. É a que nos proporciona caminhos para o nosso crescimento e nos oferece oportunidade de partilharmos com os outros (crianças, jovens e pais) o nosso sucesso. Trabalhamos para a formação de homens, portanto, não concordo com a sua opinião.

Nesse momento a minha interlocutora deixou de ser vendedora de cartão de crédito e quis ser um pouco educadora, e, ainda desapontada, querendo justificar a sua falta, me respondeu:

_ Eu me sinto também um pouco educadora como a senhora, pois já fui catequista por um tempo.

Nesse momento não contei até três e nem tampouco até dez, só lhe dei um “tchau” educadamente, deixando subentendida a minha indignação, na esperança de que ela reflita no que disse e mude de opinião a respeito do conceito do educador.

O episódio me fez ver, mais uma vez, que nós, educadores, precisamos muito fazer para reconquistarmos o nosso real valor. É preciso que tenhamos consciência do nosso papel na sociedade e nos envaideçamos por isso, exercendo com dignidade a nossa missão de educar para que todos vejam que jamais seremos “OS POBRES COITADOS”.

Diná Gomes Fernandes
Enviado por Diná Gomes Fernandes em 01/11/2009
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