DEIXAR DE ESCREVER... ACABAR COM TUDO!


Por vezes me toma um desatino e lutando quem sabe contra meu destino, quero acabar com tudo!

Jogar meus escritos no lixo!

Quebrar o lápis!

Desligar o computador!

Desligar-me do mundo das palavras e dos pensamentos!

Afinal, escrever para quem?

E por quê?

Mas ao mesmo tempo, me vem á mente a sensação de que desistir seria um quase morrer, um quase suicidar-me!

Pouco importa se não tenho um apoio maior!

Importa mesmo o apoio que já tenho!

Pensando em quantidade de leitores, fica claro que alcancei um bom número, pensando na qualidade dos leitores, por medida expressa nos comentários que me chegam, fica claro o alto nível deles.

Não sendo escritor, e nem estando á mostra quantas seriam as pessoas a quem teria acesso?

Quantos são aqueles a quem teria acesso, no rol familiar, no de amigos, no trabalho, e nas relações esporádicas?

Escrevendo atingi um número grande de leitores, aquém das expectativas talvez, mas bem maior do que se me tivesse refreado os pensamentos e a mão!

Expor-me, antes de ser um exibir-me é um confessar-me...

É dar um testemunho do que a vida criou em mim e cria constantemente!

Onde colocaria tantos pensamentos, tantos sentimentos que me ocorrem? Em um depósito esquecido da mente, ou da alma, ou no fundo do coração?

Como calar o que penso, o que sinto, o como vejo o que vejo?

Senão através das letras, códigos que se emprestam bem a este oficio e á esta destinação!

Vou até santo Agostinho, quando em suas Confissões declara que ao dar testemunho de si mesmo, faz com que cheguem aos seus ouvintes, a obra de Deus!

E é nisso que eu creio!

Escrevo para testemunhar!

Para declarar a vida em mim, que é obra de Deus!

E Nele se apóia, e Dele retira forças para caminhar!

E como existem vários tipos de homens, há vários tipos de leitores, como existem vários tipos de escritores, inclusive eu, um dia minha melhor hora, minha melhor obra, há de chegar!

E em todo caso, consciente de mim mesmo, e dando certa importância ao que escrevo, ei de procurar outros caminhos... Outros leitores... Vieira não fala que na falta de homens para ouvir os sermões, há de se procurar os peixes?

Eu ainda tento achar nos homens os meus leitores, ainda não procurei os meus peixes!

Acabar com tudo é loucura e é falácia!

A vida não pode em sã consciência acabar consigo mesma!

Apenas num ato de extrema loucura...

Embora sejam loucos os amantes das letras, esta loucura é de outra categoria!

Por outro lado a nossa existência, sob o que já esta convencionado, sob o que esta sedimentado, é um indicio de uma esperança de mudança!

Somos as sementes que dormitam a espera da hora de germinar!

Se hoje nossa palavra é fraca, sem expressão no que expressa, amanhã, ou depois, quem é que sabe da força que terá?

E nós escritores da hora, somos agora, neste momento, uma espécie de resistência, armada e tenaz, contra as banalidades, as mesmas coisas, o fácil de ser engolido mas não digerido, somos uma linha de resistência nesta batalha cotidiana contra a burrice e as besteiras que nos lançam olhos, ouvidos, mente adentro...

E que nós escritores botamos olhos, ouvidos, mente afora, através de nossos escritos, apoiando, discordando, criticando, fazendo uma apropriação pessoal e enriquecendo o rol de opções que nossos possíveis leitores tem á mão para a sua apreciação.

Eu que me uso muito da internet, só me recinto nela, o seu caráter da rapidez de descarte dos conteúdos nela postado!

Por isso caminho por outros caminhos também, em busca de leitores...

Acabar com tudo é eufemismo!

E eufemismos são coisas de escritor!

Não conseguiria mesmo fugir de meu destino!

 

Edvaldo Rosa

05/11/2009

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