Ah, a imprensa

Nos tempos da Tribuna da Serra, em São Bento do Sul, saiu uma notícia com nomes mais do que trocados e misturados. Procurei por Alexandre Pfeiffer, o faz tudo do jornal. Ouviu-me atentamente, como sempre, e explicou, didática e pausadamente: “Senhor Malschitzky, um jornal jamais admite que errou, por isso não poderei atendê-lo. Vou lhe contar uma história: um jornal inglês noticiou a morte de um homem. Dias depois, o mesmo homem compareceu à sede, pedindo que publicassem uma errata, dizendo que estava vivo. O jornal, evidentemente, negou-se a fazê-lo e propôs: “Na próxima semana noticiaremos seu nascimento para compensar”.

Foi apenas divertido, meio folclórico, sem maldade e sem ressentimentos, até porque havia amizade e um profundo respeito mútuo (sobre o “mútuo” descobri bem mais tarde). Anos e anos depois, eu assessor de imprensa da Prefeitura, um político vivia me atormentando: “ O jornal tal nunca recebe release teu”. Quando passou do limite, juntei o arquivo de centenas de reeleases enviados no último mês, todos com confirmação de recebimento, e o levei a ele. O comentário: “Não adianta você provar, o que interessa é o que eles dizem.” Tem como responder a algo assim?

Fazer jornal é empolgante, “adrenalínico”, desafiador. É um fazer diário e recomeçar novamente, no outro dia. O tempo de jornal é diferente do tempo comum: cada momento começa e se refaz com uma rapidez incrível. Uma vida inicia e acaba em menos de 24 horas; mais rápido do que o tempo de uma mosca. O alívio não dura um suspiro mais longo; melhor aproveitá-lo para puxar fôlego para ter forças para o outro começo.

Mas fazer jornal é, também e principalmente, uma responsabilidade imensa, imensa, imensa. A letra impressa é mais forte do que a maior convicção e se espalha mais rápida e definitivamente do que penas ao vento. Por isso não há lugar para frivolidades, irresponsabilidades, rabo preso. Há lugar, apenas, para a verdade e sua irredutível defesa, inclusive por parte do anunciante.

Nem só de responsabilidade e seriedade se vive: às vezes acontecem coisas que até o jornal duvida. Saiu no Jornal Notícias do Dia, de Joinville, onde também publico minhas crônicas, um título: “Mortes já superam homicídios”. Não sei, talvez logo publiquem matéria explicando como os homicídios poderiam superar as mortes, afinal, imprensa é imprensa.