Os cristãos que não crêem em Deus

Não, não enlouqueci: o mundo está cheio. Talvez você pense que falo dos “cristãos” que foram batizados e receberam outros sacramentos, conforme sua fé, mas que não frequentam mais sua igreja. Desculpe, errou. Falo de cristãos que frequentam todos os ritos, que oram, alguns batem no peito, outros até usam a palavra de Deus para tudo. Só não crêem em Deus, embora pensem que sim.

Dou 20 centavos para quem nunca ouviu: “Deus não mata, mas castiga”. Que Deus é esse que é apresentado como vingador? E quantas vezes é apresentado como vingador por algo que uma criança, às vezes inocentemente, fez e que desagradou a um adulto e não a Deus? Será que o adulto é a voz de Deus se o Nazareno disse que só entrará no céu quem tem alma de criança?

O Senhor dos cristãos está envolto em poesia, mas muitos o vestem com a vestimenta do medo e da ameaça. É mais fácil ter medo do que ter fé.

Quem divide as plantas em “do bem” e “do mal” não conhece o milagre da criação, que pressupõe equilíbrio e amor em cada espaço. Uma folha de capim não é menos do que a jornada das estrelas.

Quem vocifera verdades absolutas e desrespeita quem pensa diferente, não respeita a vastidão do mundo e da mente humana, nem respeita o sopro de Deus em cada pessoa (anima).

Quem só exalta o labor, sem dar valor à contemplação e ao descanso, nunca analisou o Sermão da Montanha.

Quem não enaltece a beleza é um ser amargo, e Deus não habita num ser amargo.

Quem faz do pecado razão de seu viver, e vive para temê-lo e vociferar contra os “pecadores”, não crê na força do amor divino.

Quem não crê em sonhos, não carrega a centelha divina, pois como dizem muitos judeus: “Sonhos são reais”, ou, melhor ainda: “Um sonho levou-me ao santuário de Deus”.

Quem não ama o próximo com toda alma, descumpre o maior dos mandamentos de todas religiões.

Quem não tem alegria de viver, não está usufruindo o vasto mundo de Deus, nem atendendo seu desejo de nos ver felizes.

Ritos, encontros, missas, cultos são importantes e ajudam, mas se não vierem envoltos no manto do amor que pressupõe perdão e felicidade, valem muito pouco. Ou nada.