(imagem Google)


A Minha Sexta  e Derradeira Crônica


        Escrever crônicas é como acender incensos, queima,ameniza e uma vez ou outra sempre acenderemos mais um, ou escreveremos outra, reiterando no vício, eis mais outro analisar humano.



        O vendedor de incensos faz quase que diariamente a mesma peregrinação, de dia quando o sol é quente vai em direção ao litoral com sua já cansada e retorcida bicicleta em busca de aglomeração, matematicamente a probabilidade de em uma dessas o mesmo vender mais de dez flagrâncias é bem maior, o vendedor de incensos é esperto, à noite quando o sol já não mais agride, procura o subúrbio, peregrina o dia inteiro, não tem ações na bolsa, conta em nenhum banco, nem título de capitalização, tem uma sandália velha, uma mochila sambada, uma bicicleta retorcida e paz no coração, uma tranquilidade que até agride, quantos incensos ele acendeu para amenizar a sua implacável ambição?, e quantos outros foram queimados para lhe impregnar um ar de total satisfação?.
        Da mochila sambada, com a testa suada, ele tira palitos aromatizados e tece uma longa explanação, dos efeitos, das crenças, e da alcançável abstração, um bruxo andante, que nós dá uma valiosa lição, que palitos queimados, um carro equipado, não são a solução, para uma vida serena, viver sem problemas e nos tratarmos como irmãos.
        Certo dia estava eu no litoral, nesses bares que nos remetem ao sentimento de que não precisamos de mais nada não, apenas de uma cerveja gelada, uma testa suada e um pouco menos de ambição, o peregrino encosta sua retorcida companheira perto de um carrão, com a mochila sambada, sandália rasgada, testa suada e o costumeiro ar de satisfação, com os olhos serenos, um sorriso nos lábios, e com alguns palitinhos em sua mão, naquele estado de transe, eu tirei essa lição, felicidade não se encontra em fumaças de ilusão, as coisas mais simples da vida nós dão essa noção, que a ambição que existe, e que toda brutal competição, é que tira nosso sossego e aflige o coração, ser feliz é possível, o andante bruxo ensina a solução, com uma mochila sambada, uma bicicleta cansada, e muita paz no coração.

        O vendedor de incensos se despede com um sorriso no rosto, naquele dia ele cumpriu a sua missão, deve saber ele, que ali alguns entenderam o sermão, felicidade é ser simples independente do quinhão, reservado a cada um, que aplaquemos a ambição,tomo um gole de cerveja, enxugo minha testa suada, e peço um prato de camarão, torcendo que a brisa do mar, diminua minha aflição, diminua minha arrogância e acalme minha ambição,por enquanto que a magia do bruxo andante não me mostra a ensinada e verdadeira solução...

 
O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas)
Enviado por O Poeta do Deserto (Felipe Padilha de Freitas) em 08/11/2009
Reeditado em 23/10/2015
Código do texto: T1912137
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