Laços de família

Esther Ribeiro Gomes

‘Não morre aquele que deixou na terra

a melodia de seu cântico na música de seus versos.’

(Cora Coralina)

Nos dias de hoje vejo, com tristeza, os laços familiares cada vez mais se afrouxarem...

Pais para um lado, filhos para o outro...

É bem verdade que os filhos não são nossos, pertencem ao mundo, mas havia mais amor, mais união...

Fico indignada quando vejo filhos se ‘descartarem’ dos pais idosos, como se não tivessem mais utilidade, colocando-os num asilo e depois, nem irem visitá-los!

Esquecem que foram eles que os alimentaram e educaram para serem os cidadãos que são hoje?!

Os idosos têm sabedoria de sobra para ensinar e deveriam ser respeitados não apenas pela família, mas também por toda a sociedade, que os segrega às margens da vida...

Nas famílias pobres, geralmente com prole numerosa, há mais união, mais solidariedade...

Infelizmente, quanto mais posses têm as famílias, maiores são as desavenças, maior é o desamor...

Quando esses pais partem, a guerra é declarada: ignoram os laços de sangue e tornam-se verdadeiros inimigos, litigando por causa da herança.

Esquecem que desta vida breve, levaremos apenas o amor que doamos...

Em frente à minha casa tem um terreno que está em inventário há anos, em virtude de uma longa batalha judicial entre irmãos!

Às vezes, os herdeiros preferem pagar bem mais aos advogados do que fazerem acordo com os parentes... É lamentável!

Por que o ser humano está cada vez mais egoísta e individualista?

Onde foi parar o amor desinteressado, a compaixão, a solidariedade?! Por que o ‘ter’ sobrepujou o ‘ser’?!

Quando perguntaram ao grande escritor e dramaturgo Ariano Suassuna, se havia ficado pessimista diante dos rumos que a humanidade vem seguindo, ele respondeu:

- Nunca fui pessimista, mas também não posso dizer que estou otimista... Digamos que sou um realista esperançoso!

E eu, pobre de mim, o que posso fazer é lançar um brado de consciência na melodia dos meus versos, como disse Cora Coralina e, junto com ela, sair quebrando pedras e plantando flores!

Ou, como diz minha mãe, continuar sendo uma poeta-filósofa!

Porque a vida é bela e a esperança, imorredoura!

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 09/11/2009
Reeditado em 25/11/2009
Código do texto: T1913928