Meu cão de barro

Meu cão de barro carrega a amálgama do universo. Lá vai ele – sem patas – a caminhar pelo espaço vazio das terras. Certas vezes olha-me ele e me vê como um indiferente. Penso que, aos seus olhos, sou um mero habitante de Marte (outras vezes sou de Júpiter). Às vezes penso que ele de mim não pensa nada (ou sou eu que penso demais sobre o que ele pensa de mim?). Certo é que ele – como mamífero que é – vive (e insiste). Nunca o vi chorar, nem sorrir. Cogitei outrora se um dia fui cão; poderia, assim, não chorar as tristezas da vida. Imagino, também, que, se cão um dia fui, talvez pensei o porquê de não ser humano (ah o sorriso belo dos humanos...). Entendi que meu cão não sabe da morte e – como numa dialética – muito menos da vida. Oxalá seja a morte o princípio do infinito; mas, ainda que não seja, dá-me ela a vida, e por essa basta a vivência finita do meu eu material.