O homem, o capital e a tecnologia

O Capital parece mesmo, longe de eu aqui estar sendo pessimista, o maior guia, o maior norte do mundo moderno. Socialistas, democratas, comunistas, todos, sem estarem submetidos a ele, à sua força, jamais chegarão a qualquer direção ou sentido.

Cada vez mais os cartões eletrônicos de créditos/débitos preenchem a vida dos cidadãos modernos, mostrando a todos que a nossa interdependência com o Capital e a tecnologia moderna é inevitável, inconfundível e até mesmo indispensável ao funcionamento pleno das economias globalizadas.Vieram para ficar e ficaram mesmo!

Se falta energia elétrica, os bancos não operam, as filas se agigantam e o alvoroço se estabelece. Cada vez mais ficamos à mercê da tecnologia e do Capital. Seria muito difícil mesmo vivermos sem cada um deles ou sem os dois bem engajados ao dia-a-dia.

Há muito pouco tempo, sem carecermos abusar da memória de evocação, havia esse mesmo capital e muito menos tecnologia e nós conseguíamos viver com bem menos ambição e infartos do miocárdio, mas, plenos ou quase isso, de sentimentos humanitários e sem as neuras miseráveis tão comuns aos dias atuais. As tão temíveis e raras fobias do ontem estão hoje fartamente presenciais em todos os meios sociais e sem apresentarem qualquer sinal de enfraquecimento, ao menos a curto e médio prazos.

Um certo e forte saudosismo está nesta crônica, fazendo-a serena e viva. Estamos mesmo perdendo o contato com o humanismo nas relações sociais como um todo. Pusemos nas relações modernas o começo, meio e fim de tudo o que é legal, correto e prático. Desvivemos.Desaprendemos a amar profundamente com raras exceções. Nunca, em meu modo de pensar e entender a vida, carecemos tanto de um governo verdadeiramente socialista como na atualidade, mas, algo que não fosse tão politicamente partidário. Vivemos o artificialismo de quase tudo. Numeramos até nossas almas.

Estabelecemos padrões globalizados de vida e instituímos um “modus vivendum” bastante diferente do que havia em nosso passado recente. O Capital e a tecnologia imperam no meio de nós como senhores majestosos e absolutos. Por quê? É mesmo tudo isso tão necessário para vivermos bem? Que nada! Eles continuam a ditar comportamentos.Quando nós nos dermos conta do monstro que estamos criando, queira Deus isso aconteça mesmo, saberemos o mal que fizemos a nós mesmos, esse feito apocalíptico de sobreviver, exageradamente distantes das experiências boas do quase tribalismo em estávamos acostumados a viver. Carecemos retroceder em alguns pontos, repensarmos os nossos exageros. Tecemos meios indigestos demais de comportamentos.

Diz a música: “ estou fazendo amor com outra pessoa...” Antes nós estivéssemos mesmo fazendo amor com outras pessoas, mas a nossa realidade é de desamor no seu sentido amplo, maior do que o que nesta letra musical está representado. Lutamos feito loucos para juntar o capital e garantir nossa sobrevivência, principalmente na velhice, e, quando pensamos que estamos bem, vêm as doenças e a velhice improdutiva e nos tiram tudo. Vale a pena vivermos assim? O Dalai lama é que está certo quando diz não entender o porquê de os homens lutarem tanto para ficarem ricos e, em um piscar de olhos, gastam tudo o que conseguiram para se livrar das doenças.

Ainda carrego dentro da alma a fé de ver muito disso tudo findado e os homens vivendo mais próximos da reflexão e do amor. Precisamos investir mais nessa geração nova que ainda desabrocha e que já está contaminada pelo vírus nefasto da modernidade enlouquecida. Não podemos nos dar por satisfeitos em sermos escravos dos cartões de créditos/débitos e da tecnologia suprema onde o homem passa a ser apenas um número público e disponível às punições e aos degredos. Viver representa bem mais do que essa escravidão intolerável aos que ainda têm juízo!