Colcha de Retalhos

De repente foi como se estivesse a ver um velho álbum de fotos... Páginas amareladas, grudadas, rasgadas num canto... E ela estava ali revivendo uma história antiga... Sentia a alma inquieta... Todas as lembranças de um tempo ainda quase infantil dançavam, corriam, pulavam em sua mente deixando-a tonta. Era preciso reagir. Não podia mostrar-se a fraquejar, nem tão pouco deixar que se percebesse tamanha euforia a que estava prestes a se entregar. Aquele ali parado agora, em sua frente, muito à vontade já lhe arrancara suspiros na juventude e por razões que aqui não cabem, seguiu um caminho diferente. É bem verdade que andaram próximos... Tendo-se notícias um do outro... Mas não como naquele instante... Em que talvez, pela primeira vez, até mais do que antes, corpos e mentes se olhavam de uma forma única, garantidamente nada infantil. E ela estava ali desejando talvez não voltar por inteiro, mas dar uma passadinha em um tempo que ficou lá trás quando ela ainda não se dava conta de que amor é... Construção e de que todos os sonhos adolescentes, por mais aventureiros e inebriantes que pareçam não nos seguem por toda vida. Em algum lugar do caminho eles param como se quisessem descansar e simplesmente não nos acompanham mais. Ele a olhava como se quisesse - talvez fosse isso mesmo – descobrir o que se passava em sua mente. Conversavam sobre tudo, mas ao mesmo tempo parecia que as palavras não seguiam ordens da mente. As expressões de ambos denunciavam as tantas dúvidas de cada um. E mesmo já tendo se encontrado antes, ela agora tinha consciência de um tirano sentimento de culpa a fuzilar sua alma cada vez que se lembrava do quão havia sido ingênua quando não aceitara o chamado pra seguirem juntos construindo uma história. O que será que ele tanto procurava em seus olhos? Uma resposta que explicasse aquela surpreendente negativa? Ou será que estava apenas querendo descobrir se realizou todos os esfuziantes sonhos que os separaram? Talvez estivesse simplesmente pensando no quanto foi bom ela ter desistido. Quem sabe quisesse dizer-lhe que nunca deixou de ter esperanças de que mudasse de ideia e viesse ao seu encontro? Não sabe ele que ela estava ali tentando encontrar respostas para o que aconteceu como se pedisse perdão, tentando encontrar um jeito de segurar-lhe a mão e retomar o caminho interrompido com a ideia – nem tão absurda assim – de que hoje, depois das andanças dos dois por tantas paisagens diferentes, seria como uma colcha de retalhos... Bem mais colorido.

Tereza de Bezerra
Enviado por Tereza de Bezerra em 14/11/2009
Reeditado em 15/11/2009
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