O PREÇO DO PROGRESSO
Calor de rachar mamona, diriam os mais antigos.
Cidade pequena e calma.
De avanço urbano, paralelepípedos reluzentes enfeitavam a rua principal.
A igreja, construída há centenas de anos atrás , agüentava-se em pé por força da fé do carvoeiro de cada um dos habitantes locais.
O padre começara a aparecer por ali a cada quinze dias para a celebração de uma missa matinal. Fora ordem do bispo que soubera, por cartas alinhavadas das carolas locais, da infiltração de uma seita que andava rapando os miseráveis trocados dos capiaus.
“Uma absurdidade!” - acentuava uma das cartas. Onde já se viu uma coisa dessas!?
Absurdidade estava por vir.
E chegou, para surpresa da população. Foi se instalando assim devagar. Mas não tão devagar, que gente do dinheiro tem pressa.
A molecada descalça acompanhava boquiaberta o vai e vem de caminhões cheios de tijolos, areia, cimento...
Chegava trem que não acabava mais.
E aqueles homens estranhos, - uns de terno e gravata até! -, que tiraram o sossego do vendeiro pedindo cachaça , cigarro... e perguntando das mulheres. “- Arre! Seus maleditos!”
Chegara o dia da inauguração. Gente de fora, gente metida, gente que nem ”bão” dia dava para o povo que, de longe, olhava aquele mundaréu de gente.
Ao som de foguetes, banda de música, e muito blábláblá, a festa acabou.
A praça logo se esvaziou e só ficaram os pés-no-chão que se entreolhavam estupefatos. Afinal o que aconteceu? Ninguém sabia. Ninguém não, pois não é que o vendeiro sabia ler!
Ah! Então era isso! Um banco! Nesse fim de mundo? Pra quê, Santo Deus? Pra quê?
Mas cada um tinha lá seus afazeres... e foram cuidar de suas vidas bucólicas.
E foi nessa tarde de rachar mamona que eles chegaram em suas caminhonetes negras...
Metaforicamente, quando a poeira baixou é que se pode ver o rastro de sangue do progresso.