"ÁRVORE SOLITÁRIA" Crônica de: Flávio Cavalcante

ÁRVORE SOLITÁRIA

Crônica de:

Flávio Cavalcante

Alguns anos atrás, amigas companheiras povoavam este mesmo lugar. Boas lembranças de outrora, esquecida pela consciência do tempo e conseqüentemente provocada pela inconsciência do homem que se diz estar no mundo moderno.

Nunca se viu por aqui uma nuvem tão negra, laqueando o sol que um dia sorriu toda vez que passava alegremente, aquecendo a nossa vida, trazendo alegria ao nosso coração.

Essas buzinas que hoje atormentam até os tímpanos do próprio homem, há tempos atrás eram como um bálsamo para os nossos ouvidos e trazia a calmaria para a nossa alma com a bela orquestra dos pássaros e cigarras cantoras.

O vento soprava sem fúria e derrubava alguns frutos já maduros de meus galhos para alimentar os bichinhos que não conseguiam subir em mim.

Hoje os tempos são outros. A loucura e a ganância fincada no homem, falaram mais alto e chegou num patamar que não vejo uma saída sequer se continuar com esta doença do capital. Somente eu que sobrevivo aqui e tenho que agüentar calada sem ter o direito de reivindicar o espaço que outrora foi meu.

A tecnologia digital veio para facilitar o dia a dia corrido do homem e prejudicar o natural que nos antigamente jorrava pra todo lado oxigênio puro. Uma fartura dada de presente pela natureza. A saúde era coisa comum nos moradores do mundo terreno. Comida era coisa em abundância e ninguém sabia o que era sentir fome. Hoje, arfa esta única árvore em meio a uma floresta de concreto, gritando suas lamúrias pedindo além dos arranhas céus clemência, que envie um pouco de ar fresco para ela poder ao menos respirar.

A árvore solitária chora triste com a indiferença do homem. Apesar de solitária e triste ainda tem forças para abrigar em seu seio acolhedor, um solitário ninho, que conota uma presença marcante e dolorosa de um filhote de gaivota. De bico aberto, tenta sugar um pouco de ar para sobreviver e espera que alguma fêmea sobrevivente de seu albatroz encontre algum alimento na tentativa de dar a ele uma chance de vida e esta não ser de uma vez todas, extinta, além da esperança, que por sorte ainda resta.

A árvore solitária é saudosa e solidária com o velho rio, que antes abrigava em suas correntezas, cardumes de várias espécies, que passavam felizes vindos de outras margens e nascentes. Uma realidade só presente na memória da velha árvore.

Hoje o que resta nos atualmente são águas escuras, grossas e mortas, onde vários cardumes, vitimados pelos lixos e dejetos putrefazem aos olhos do homem que não tem sequer dó de sua própria vida.

SE CONTINUAR, NOSSOS DIAS ESTÃO CONTADOS.

- FIM -

Flavio Cavalcante
Enviado por Flavio Cavalcante em 20/11/2009
Reeditado em 20/11/2009
Código do texto: T1933488
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