SÉRIE CRÔNICAS DA MADRUGADA - 03 (A VAIDADE DOS HUMILDES)

Mais uma vez encontro-me aqui, deparado com a audição do meu silêncio, assistido pelo vão dos sonos coletivos e a me indagar: o que faço para melhorar esse mundo?

A julgar pelas mazelas de meu próprio interior, sou tentado pela lógica a desistir do ideário autobiofráfico, entrementes as ondas perturbadoras de minha consciência não costumam transigir em se tratando de tudo aquilo cuja omissão agride-me mais fortemente até do que as cenas que almejo transformar.

É certo que contemplo ao meu redor passos frenéticos que se julgam sábios pela busca incessante de seus interesses materiais, pela obtenção de seus prazeres efêmeros e pela sustentação de seus privilégios sociais: ambos prêmios de um existencialismo terreno, cuja apólice beneplácita se dará até as fronteiras da presente dimensão..e nada mais.

Quisera, eu, porém, achar-me justo de algo que transcende meu olhar pequeno e percorrer os vales verdes de um amanhã que não morra nem mesmo em seu depois.

É por isso que me observo tão cuidadosamente. Tenho a exata, a perfeita e absoluta noção do que sou, do alcance de meus ecos, dos trajes de minha nudez, das cinzas de meus mares, dos registros de minhas brancas folhas, dos amores de meus ódios e dos horrendos desenhos a perfazer minha "beleza".

Descubro, pois, que de tudo que devo fugir na vida, sem desconsiderar a farta lista que compõe tal ventura, convém observar a vaidade.

Os vaidosos convertem a imensidão do universo para o grão de suas jactâncias. São capítulos obscuros de suas próprias luzes, são reféns da liberdade que os mantém livres dentro da masmorra, são farejadores do pão surreal que alimenta o ego e desnutre a alma, são capitães hereditários de sua doença limítrofe sob a ação sugadora dos ventos irônicos escondidos em cada conquista transitória.

Seres vaidosos são entes doentes porque avistam essências no opaco cenário de seus delírios e assim apagam registros fundamentais ao seu próprio desenvolvimento; agigantam de uma tal maneira seu autoamor, que chegam ao cúmulo do massacre velado de seus olhares arrogantes, sendo estes cegos aos seus próprios desacertos e aos setes mares de suas feiuras íntimas.

Livre-me, pois, o Eterno, dessa chaga moral, para que eu sempre seja capaz de me ver equivalente a mim e nunca desista de insistir no prêmio de maior valor, que consiste em ser de tal modo vaidoso a ponto de optar continuamente pelas veredas da humildade!

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Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 20/11/2009
Reeditado em 20/11/2009
Código do texto: T1933610
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