Anos Rebeldes
Esther Ribeiro Gomes
Quando terminei o curso de Secretariado no Mackenzie, entrei na PUC/SP, para cursar Direito. Corria o ano de 1966 e participávamos de passeatas para protestar contra a ditadura militar.
Naquela época, nossa juventude era bastante engajada e politizada.
Imaginem vocês que um dos meus colegas de turma era o Zé Dirceu!
Ele nos liderava nas passeatas e quantas vezes tínhamos que sair correndo para não apanhar dos militares da cavalaria que covardemente, munidos de cassetetes, batiam para valer!
Um dia, corremos tanto que fomos nos esconder numa famosa casa
de prostituição na ‘Boca do luxo’, perto do Mackenzie: ‘La Licorne’.
A proprietária nos recebeu muito bem e nos ofereceu chá com biscoitos...
Nunca me esqueci daquela tarde, o tapete era vermelho e a decoração dourada... Um luxo!
Outra vez, estávamos na Igreja dos padres dominicanos nas Perdizes, perto da PUC, e um padre colocava na lousa o roteiro da próxima passeata. De repente, chegaram os militares a cavalo e com cassetetes na mão, invadiram a Igreja!
Houve alguma denúncia anônima, mas um padre foi mais esperto e conseguiu nos avisar antes deles chegarem...
Quando entraram, presenciaram a seguinte cena:
O padre ministrando uma aula de religião e todos nós ouvindo atentamente...
Zé Dirceu era humilde e nunca imaginei que um dia viria a ser protagonista daquele vergonhoso mensalão! Que decepção!
Quando voltou ao Brasil, na clandestinidade, descobriu um cirurgião plástico inusitado: conseguiu a façanha de modificar o rosto e o caráter dele!
Participei também do TUCA, teatro da PUC. A turma anterior à nossa, ganhou na França o 1º lugar no Festival Universitário de Nancy, com a peça: ’Morte e Vida Severina’, de João Cabral de Melo Neto.
Chico Buarque de Holanda fez a música e acompanhava todos os ensaios.
Chico fez também a música da peça que encenamos: ‘O&A’ de Roberto Freire e ia sempre assistir aos nossos ensaios. Muitas vezes, depois dos ensaios ia conosco num restaurante comer rã: Ele adorava! Naquela época estava começando sua carreira e cantava para nós...
Uma das músicas que eu mais gostava era ‘Olé, Olá’... Bons tempos!