A CARAVANA PASSA!
Olhou-se ao espelho e se sentiu acabado.
Ainda ontem, um companheiro de trabalho que há anos não via, ao lhe dar um abraço, dissera com a maior sem-cerimônia:
- Como tu tá acabado!
Riu-se de suas mazelas, mas uma ferida fora aberta na sua auto-estima.
Acabado? Estaria mesmo assim tão acabado?
O espelho refletia um rosto bem diferente do de vinte e tantos anos atrás. Mas não lhe parecia assim detonado.
Aquele “filha-da-puta” que vá pro inferno!
Sai para a sua caminhada vespertina.
Nossa! As pessoas parecem que não têm pra onde olhar não? Fitam-no curiosas, outras espantadas lhe sorriem. Mas o que está acontecendo? Nunca as vira dessa forma - interessadas em sua pessoa.
Mas por quê?
Sentiu-se observado por todos os lados. Sentiu-se oprimido, e, assim sufocado, buscou refúgio varrendo o chão com os olhos, tentando disfarçar o desgosto que lhe ia n’alma... buscando um buraco para se esconder.
“Como tu tá acabado!” - o estigma incrustado em seu espírito o perturbava sobremaneira.
Desistiu de caminhar. Nunca mais poria os pés ali. Sentia o olhar zombeteiro das pessoas jovens ali do parque.
O que esse velho tá fazendo aqui? - estão a pensar.
Estava acabado. Acabado e pronto.
Mas aquele seu amigo , que também não tava lá aquelas coisas! – morreu. E isso foi o “start” para reativar suas energias debilitadas.
Acabado, ele?! Pau na máquina, véio!
Voltou ao parque...
Dane-se juventude!