O PERNÃO

No vestiário de uma academia de hidroginástica.

-Geeeeeeeeeete!!! Volteeeeeeeei!!!

-Que bom! Estávamos com saudade de você!

-E tenho uma novidade: cansei de ficar sozinha e vou arrumar um namorado.

-Não, “menina”, não faça isso, pelo amor de Deus! Não vá procurar sarna para se coçar!

-Também acho que você não deve mexer com essas coisas, colega. Vai arranjar um companheiro para quê? Para tomar mingau de aveia e irem à fisioterapia juntinhos?

-É para isso mesmo! A solidão é terrível, vocês não têm noção!

-Se é assim, comece a rezar e arranjará um homem de Deus.

-Isso mesmo, Linda. Com certeza, daqui a dez anos ele aparecerá.

-Dez, não, eu quero agora, pois, há quinze que vivo só.

Depois da aula, as amigas foram tomar vacina contra gripe.

No ambulatório, estava um senhor magrinho, pálido, muito triste, cabisbaixo, numa cadeira de rodas e elas chegaram alegres.

Linda sentou-se em frente ao idoso e, muito à vontade, porque estava com maiô sob o roupão, cruzava e descruzava as pernas.

A atendente atendeu o senhor.

-Vamos fazer a sua fichinha? Por favor, diga-me o seu nome e a idade.

Ei! Estou falando com o senhor!

-Ah... Eu me chamo José da Silva e tenho sessenta e sete anos.

-Puxa! O senhor é um ano mais novo do que eu!

-A senhora, com essa idade, tem um pernão!

-Tampe essas pernas, “garota”.

-Não, não. Deixe assim mesmo. Está muito bom. Ela tem um pernão bonito, que dá gosto.

-O senhor sabia que a minha amiga está procurando um namorado?

-É deveras?! Sou divorciado!