Manja che te fa bene

Esther Ribeiro Gomes

Durante quinze anos convivi com italianos e aprendi muitos quitutes dessa cozinha divina!

Em outra prosa já falei da ‘brusqueta’: fatias de pão redondo italiano (panhota) onde, depois de assadas, esfrega-se alho cru em cada fatia, azeite, sal e orégano. Pode-se fazer uma salada com tomates-caqui, temperando-os com azeite, sal e orégano e colocar um tomate em cada fatia de pão. É uma delícia para servir de entrada, ou acompanhar churrasco e aí o pão é colocado na grelha para dourar, em vez do forno convencional.

Em Veneza aprendi a fazer uma deliciosa massa: ‘ Spaguetti al vôngoli’ com alho, azeite e cheiro verde, sem tomate. Dá muito trabalho porque tem que ficar trocando a água várias vezes para tirar toda a areia que fica nas conchinhas. Os vôngoles não são aferventados, eles são colocados com as conchas no azeite com alho e por último, coloca-se cheiro verde. Cozinha-se o spaghetti ‘al dente’ e mistura-se com as conchinhas. Muito bom...

Dante gostava muito de pescar e íamos sempre a Paraty. Ficávamos numa pousada de um amigo dele, à beira-mar. Ele levava um barco com motor possante e lá íamos nós passear nas belíssimas ilhas, onde ele pescava. Um dia fomos pescar vôngoli junto com um funcionário da pousada (tem que ser na maré baixa) e durante toda a tarde fiquei trocando a água para retirar a areia das conchinhas! À noite, depois do jantar dos hóspedes, fui para a cozinha preparar esse prato para nós e para os donos da pousada. O cozinheiro deixou duas cabeças de alho trituradas, bastante cheiro verde picado, uma lata de azeite italiano e três pacotes de spaguetti para eu fazer a iguaria... Prometi guardar um pouco para ele. Mas, qual o que, não sobrou nem um fio!

Certa vez em Artena, paese (cidadezinha) encravado na montanha, fomos jantar na ‘Trattoria do Humberto’ e ele nos sugeriu uma massa diferente: ‘farfalla empasita’ (borboleta maluca): doura-se a cebola

na manteiga e coloca-se dois pimentões (vermelho e amarelo) picadinhos (sem pele), espinafre batidinho, creme de leite e queijo parmesão ralado. A massa é ‘gravatinha’, cozida ‘al dente’. Delicioso!

Outra vez fomos jantar nos arredores de Roma: (Lago de Nemi), no restaurante ‘Bafone’ (bafi=bigode) onde se come funguis (champinhon) deliciosos! Os melhores são os funghi-porcini, o sabor é divino! O risoto de fungui é muito bom...

Refoga-se alho e cebola na manteiga com um pouco de açafrão e os funguis. O arroz (arbóreo) é cozido no caldo de carne que vai sendo colocado aos poucos. Por último, o parmesão ralado.

Outro risoto delicioso é o de camarão rosa. Doura-se cebola e alho

na manteiga e refoga-se o arroz (arbóreo) que é cozido no caldo do camarão (que se obtém cozinhando as cascas com as cabeças na panela de pressão) e dois tomates maduros picados sem pele. Quando faltarem cinco minutos para o arroz ficar pronto, colocar os camarões temperados com alho e sal (o camarão fica duro se cozinhar mais do que isso). O risoto fica cremoso, uma delícia! Manja che te fa bene...

Esther Ribeiro Gomes
Enviado por Esther Ribeiro Gomes em 24/11/2009
Reeditado em 24/11/2009
Código do texto: T1940560