Dias de muito sol ("Seo" Pedro Paixão)

Acordei e peguei um livro do João Ubaldo para me acompanhar ao banho, mania que cultivo desde a adolescência. O estilo cômico-sarcástico do escritor baiano me remete ao universo dos botequins de Itabuna, aonde nos reuníamos para jogar dominó e contar mentiras de toda ordem. Desde a última mula-sem-cabeça vista pelo seu Otaviano, (um cara corpulento - gordo mesmo, mas ninguém era besta para se ariscar a chamá-lo assim!) até aquela inacreditável loiraça (na verdade não passava de um reles traveco...) que havia piscado o olho para o Moacir, um baixote mais feio que conta de luz em atraso). Seu Pedro, pai do meu amigo Olávio, que hoje cria bodes na Chapada Diamantina, lugar aonde pretendo terminar meus infaustos dias, era o campeão das rodadas majestosas de dominó, embates que aconteciam em cima dos tamboretes, sempre acompanhadas de uma "branquinha" já que ninguém é de ferro. Eu achava genial quando ele se erguia e exibia quatro perdas de uma única vez e "fechava" o jogo. A platéia de "perus" aplaudia entusiasticamente aos berros de: 'Pedrão não tem pareia!”E não tinha mesmo. Depois de muito penar, aprendi a entender como ele fazia isso; contava as pedras do jogo e antecipava o final, descendo as pedras com a segurança de um artilheiro ao bater um penalty. Batata! Como diz um conhecido meu aqui das terras paulistas...."macuco na caçapa." Depois de tanta verborragia não posso deixar de lhes dizer o tal livro que citei logo acima, o qual é muito sugestivo e me traz à memória uma outra história que contarei em um outro momento: " A Arte e Ciência de Roubar Galinhas". Como já tomei o necessário banho e o dever cotidiano me chama com uma certa impaciência, paro de tirar a paciência de todos e vou cantar em outras freguesias, antes que pedras (ou ovos e tomates - apesar de estarem pela hora da morte...) comecem a vir em minha direção.

(Compartilho aqui, nesta singela crônica, um momento de nostalgia, em que retorno aos jogos de damas e dominós, entremeados com peladas aguerridas (as de bola, bem entendido), disputadas a ferro e fogo como uma final de campeonato.)

Terras de São Paulo, Junho de 2007

João Bosco

Aprendiz de Poeta
Enviado por Aprendiz de Poeta em 24/11/2009
Reeditado em 26/03/2018
Código do texto: T1940954
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