Lula e o Irã nuclear, Panurge e o coco...

Diferentemente de tantos colegas no ramo jornalístico, não sou PT. Não sou por não ser, afinal não sou nada. Também não me alego imparcial ou objetivo, pois por mais que tento alcançar esta admirável condição zen tenho o mínimo de ciência que tal é quase impossível. Mas tenho me empenhado a usar meus filtros culturais para julgar com decência e consciência limpa. E nesse espírito, mesmo eu que tenho há anos martelado o presidente Lula nesta coluna não me envergonho de reconhecer o prazer que nosso guia me trouxe nas ultimas semanas. Falo aqui da política exterior do presidente. Afinal, até relógio quebrado acerta duas vezes por dia.

Se a visita de Ahmadinejad for simbólica para este país, como exclamam tantos, arguo que seja pela maturidade que nosso país demonstra em suas relações exteriores. Ao receber Shimon Peres, Mahmoud Abbas, e agora Ahmadinejad o Brasil mostra uma vontade real de dialogar, o que na política internacional é uma virtude. Não defendo aqui os atos de Ahmadinejad e muito menos debato se o Irã é um país democrático, pois já admito estar farto da deificação da Democracia, especialmente diante o uso que se faz dela para justificar atos respaldados por interesses econômicos. O país é o que é, e o presidente eleito é Mahmoud Ahmadinejad. Ignorar este fato não o mudará.

Mas já que tantos pontos sobre o iraniano parecem irritar tantos, devo esclarecer o que sei do caso aqui. Deixando de lado as exclamações que tanto seguem Mahmoud sobre Israel, e que já foram comprovadas como mal-traduzidas, acho importante abordar o recente imbróglio causado pelas exclamações estadunidenses e israelenses sobre o “compromisso” do Irã com a questão nuclear. Sendo que Israel não abre suas portas para inspeção da AIEA (IAEA dependendo de onde esteja) ou esclarece duvidas sobre seu suposto arsenal nuclear não vejo como se acham no direito de opinar a questão. Mas deixando isto de lado, semana passada o Irã ofereceu entregar sua carga de material nuclear inteira em troca de urânio enriquecido a 20o para gerar energia nuclear (incapaz de fazer uma bomba) se os paises aliados aceitassem fazer a troca em solo iraniano. A preocupação do governo é que não terão garantia de ver seu urânio de volta uma vez que o entregarem. Sendo que os EUA somente tinham pedido 75% do material em troca, vejo o ato como gesto equilibrado e de boa fé.

Mas então porque os EUA não só ignoraram a contra oferta do Irã como também a trataram como uma rejeição de colaboração? Afinal o Irã é uma nação soberana que já abriu suas portas à IAEA e atualmente se encontra em dia com seus compromissos internacionais, isso por afirmação do próprio ElBaradei, Diretor Geral da IAEA.

O real problema não tem nada haver com capacidade nuclear bélica, pois até o Irã sabe que se atacasse Israel logo veria suas terás invadidas. O trama nuclear no Irã se resolve em um anunciado. Lá vai: Já que o Irã é um dos maiores produtores de petróleo do mundo mas por falta de desenvolvimento infraestrutural compra a maior parte de seu produto de volta dos EUA refinado, o que é usado para gerar a maior parte de sua energia elétrica, uma usina nuclear iraniana nacionalmente sustentável mataria este mercado para os EUA. Pfiuu, Deixa eu respirar. A inflexibilidade dos EUA em aceitarem a contra oferta iraniana comprova esta teoria. Por manter controle do enriquecimento de urânio iraniano, os EUA continuaria a controlar a energia do país, seja em conjunto com a Rússia ou França, ou não. E aí está.

Em seu convite ao presidente Iraniano Lula mostra que não está jogando o jogo dos Americanos, pelo menos diretamente (Sempre há a possibilidade da troca de uma condenação posterior ao Ahmadinejad por uma contribuição “anônima” à candidatura de sua queridinha). Mas mesmo assim o ato solidifica neste continente a soberania do Irã e seu líder. Por isso aplaudo nosso presidente neste sentido, como o vaiaria em tantos outros.

Panurge e o Coco

Panurge Constante, sujeito que vez por outra encontro no boteco Copanema, reclama constantemente da prefeitura. Tento o acalmar com argumentos corriqueiros sobre a evolução do Rio e a eminente paz. Especialmente diante de seus episódios - recentemente jogou uma garrafa no meio da rua. A causa foi a proibição da venda de coco pelas barracas nas praias.

Panurge me garante que se trata de limitar o mercado livre para garantir a rentabilidade dos novos quiosques em Ipanema. Tentei seguir o pensamento mas fiquei um pouco perdido. Aparentemente para meu caro amigo francês, a prefeitura queria inflar as vendas dos quiosques em Ipanema artificialmente para aumentar o valor das licitações na próxima rodada de renovação que acontecerá no bairro. Como se sabe os quiosques de Ipanema continuam no estilo antigo e simples. Tentei explicar a Panurge que isso seria impossível, que tais esquemas Machiavélicos não existem na vida real e que não passam de roteiros de cinema. Mas o velho não quis escutar, se levantou foi em direção á praia onde disse que iria jogar alguma coisa na água, não ouvi direito o que.

Pobre Panurge, sujeito dramático, sonha demais.