Turco

Turco

Morador do Morro circundado por Inhaúma, Terra Nova e Engenho da Rainha, Turco era cozinheiro da Marinha; forte como um touro, pesando cerca de 140 quilos, era treinador do Paulistano, clube de futebol que arregimentava alguns dos melhores jogadores da região. Morava com Neia, mulata frágil e espevitada, de pouca conversa. Dedicava-se inteiramente ao Paulistano, como manager e treinador, aceitando os confrontos com outros bons e maus times; parecia eficiente porque os jogadores eram ótimos, acostumando-se às vitórias. Ao ser contemplado com uma herança familiar, queimou o dinheiro beneficiando gregos e troianos, pagando aos jogadores que, de olho no dinheiro, começaram a fazer exigências para permanecerem no time. Nos grandes embates com times de envergadura, o Paulistano e seu treinador se sobressaiam! Melhor na hora da briga, quando mandava que todos entrassem no caminhão, meio de transporte da turma, e enfrentava sozinho os derrotados enfurecidos; parecia um samurai invencível, saindo-se bem na imensa maioria das vezes. Gastou tudo que herdou, perdendo o dinheiro e, também, a esposa; esquecia-me de dizer, que ao receber o dinheiro, prepôs à Neia "regularizarem a situação" casando-se. Neia partiu, deixando o marido gordo, doente e sem dinheiro. Tinha adquirido uma doença do coração e toda a vez que procurava o médico, levava-lhe uma bandeja de empadas, maneira que tinha de agradecer os cuidados recebidos. Deixou história na região, sendo conhecido por todos os moradores, principalmente porque o futebol é um meio de comunicação extraordinário. Com Sorriso, Moreno, Joca, Edgard, Milton, Celso, Miguel e outros, sem falar no ágil goleiro Lelú, o Paulistano atravessou fronteiras; rivalizava-se com o Elite de Mudo, o goleiro sensação, a quem o Joca cumpriu a promessa de fazê-lo falar, após a batida de um "tiro livre" de 30 metros; também, tinha outro rival, o time do Laranjeiras, para onde o Tal, que jogava uma barbaridade, apelido do Ildefonso, se transferiu por melhor cachê, causando aborrecimentos aos primos que jogavam no Paulistano...Numa apresentação no campo do Flamengo, fazendo preliminar, o Sorriso jogou tanta bola, que no dia seguinte o Jornal O Campeão estampava a manchete - O crioulo da preliminar; contratado pelo Olaria, que acabara de entrar para a primeira divisão, marcou três gols na estréia contra o Botafogo, na Rua Bariri. Na galeria de pessoas simples que fizeram história na região, dentre outros, como Pedro Maluco, Mudo, Sorriso, Joca, Tindé, Dica ou Congo, rendo minha homenagem ao homem bom e sensível, contrastando com o corpo pesado, forte como um touro - Turco!