A morte foi feita para nós (ou não)

Um vizinho meu adoeceu, ele é um senhor de idade já bastante avançada. Normal isso acontecer tanto pela idade dele como pela freqüência que nós ficamos doentes nos dias de hoje. A principio não fiquei muito preocupado, até mesmo porque não tenho muito contato com os meu vizinhos.

Dois dias depois, eu já estava saindo para o colégio, umas sete da noite e recebi a notícia que ele havia falecido. Não sei o que houve comigo, mas fiquei paralisado por um momento. Pensei nos filhos dele, nos netos, na dor que com certeza tinha encontrado morada naquele lar. Fui para o colégio um pouco mais pensativo do que o normal. Dormi esta noite bem, apesar desse incidente que insiste e vai se repetir muitas vezes em nossas vidas, até o dia em nós partiremos dessa para uma melhor.

No outro dia fiquei pensando o que diria se encontrasse seus filhos, como iria dar meus pêsames. Sempre detestei esse negócio de pêsames, essa coisa formal de tratar a morte. Pensei em dizer para eles que lembrassem com alegria os momentos felizes, que a saudade fizesse reverenciar aquele ancião, que pelos menos ele morreu depois de uma vida inteira e não com os sonhos pela metade, que... Pensei em mil coisas, mas terminei não dizendo nada, pelo menos não ainda.

E fiquei pensando se a morte foi realmente feita para nós? Tanta dor que se faz em torno deste momento irremediável. Mas realmente acho que nós devemos morrer, pelo menos desse mundo. De que outra maneira buscaríamos nos aperfeiçoar? De não deixar tudo para amanhã? De aprender que um dia nós vamos perder alguém muito importante?

Sei que realmente é um aprendizado muito dolorido e cruel, com os mortos e mais ainda com quem ficou vivo. Mas a coisas mais essenciais que temos que aprender, aprendemos com dor. E a vida vai seguindo seu curso natural até que algum dia alguém tenha que aprender a viver sem a gente. Nesse pensamento todo descobri que nós somos realmente eternos, somos eternos enquanto houver alguma parte nossa dentro de alguém. Quando eu morrer, eu também quero deixar saudades.