O Grande Clipe da Vida

“De pequenas coisas a vida é feita”. Um bom início de crônica. Outro dia eu me perguntava exatamente o sentido dessa frase, e então comecei a analisar friamente seu conteúdo.

Sabe um dia daqueles, que você sai de casa correndo e nem se dá conta do que vai fazer? Sim, claro que sabe... Foi em um dia desses que eu comecei a me tocar sobre a tal frase. Coloquei o fone do discman no ouvido e saí, meio sem rumo. Comecei a reparar nas pessoas, tendo uma breve demonstração de seu modo de andar, agir e viver... Tudo parecia se encaixar, conforme a música tocava. Gestos, palavras, atos.

Vi o encontro de duas amigas, que pareciam não se ver há muito tempo. A expressão de ambas não enganava ninguém. Vi um homem olhando para o horizonte, em meio a algumas árvores, com um sorriso distante e sem medo. Medo do hoje, do amanhã. Da realidade. É raro vermos e sentirmos isso no nosso cotidiano. Tudo o que conseguimos ver são pessoas irritadas, correndo, sempre com algum compromisso muito mais importante do que qualquer outro ato ou gesto.

Bom, e voltando ao momento bonito da crônica... Imaginei tudo aquilo como um grande clipe musical. O clipe da vida. E nisso eu continuava andando distraidamente e, inevitavelmente, tendo a idéia desta crônica. Metade das idéias simplesmente sumiram, mas isso acontece com todo mundo. Outro dia, inclusive, li em um livro um artigo que falava sobre a crônica. Um campo aberto, sem limites. Quando não se tem assunto, por que não escrever sobre a falta de assunto? A falta de assunto é realmente um bom assunto...

E lá estava eu caminhando, com uma imensa viagem mental... Como todo distraído tem que tropeçar, eu tropecei. Maldita pedrinha. No cruzamento seguinte, eu quase morro do coração quando vejo um carro vindo em minha direção. Até aí tudo bem, mas o pior mesmo é quando eu olho pra frente e vejo uma figura conhecida: minha amiga, com os mesmos cabelos castanhos e as mesmas poucas centenas de espinhas. Mais um monólogo ia começar, e ia acabar com todo o clima...