O NATAL DE NOSSAS VIDAS

Pois é, quem diria que o ano fosse passar assim tão depressa. Mal passamos pela páscoa e o natal já se encontra às portas. Mal deu tempo de cumprir metade das promessas passadas e já somos obrigados a tecer outras novas, colocando na ponta do lápis aquelas que mais uma vez ou por hora planejaremos cumprir. A velha e boa dieta já tem vaga garantida.

Até o ano novo tem prazo limitado. Mal nos recuperamos da ressaca e do trabalhão que é desmontar a arvore de natal com aquela ‘fiarada’ toda enrolada nos galhinhos, e de súbito entramos na velha rotina de sempre que nos convence de uma vez por todas que foi apenas o ano velho que foi zerado, porque o nosso velocímetro continua na mesma de sempre a mil por hora para correr e dar conta de tudo no curto espaço de tempo.

Ainda mais quando se aproxima o final do ano. Até a viela menos movimentada e apertada serve de estacionamento para todo tipo de veículo. Ainda não vi trenós, mas certamente deve ter. Sem contar à loucura que é enfrentar fila pra tudo. Não é fácil tentar ajudar o bom velhinho a manter aquela fama de que nunca se esquece de ninguém. Já seria de grande valia se ele não se esquecesse de mim quando eu tivesse o IPVA, o IPTU e os demais impostos para pagar e tudo já pro comecinho do ano.

Pois é, é chegada à hora de rever algumas coisas que demos mais ou menos atenção ao longo de todo o ano, de encher a mão de sacolas e sair do Shopping achando que fez a coisa certa. Mas, a gente entende que fez a coisa certa, quando percebe que todo o gasto necessário com presentes faz bem a nós mesmos, embora o presente seja para presentear alguém querido. Dá uma sensação boa e gostosa de retribuir e demonstrar a quem nos deu carinho e tanta atenção nos melhores ou nos piores momentos pelos quais passamos. É como se disséssemos: _Você não me deixou sozinho quando eu mais precisei de um amigo.

É boa demais essa sensação de ter as pessoas certas no nosso caminho, a certeza de que teremos uma mão amiga que nos dará todo o apoio quando mais precisarmos e que nos manterá acolhidos num abraço comprido sem a necessidade de fazer nenhuma pose. Bom mesmo é chorar sem ter vergonha e perceber que essa vontade teve o apoio certo, na hora certa. Por mais que sejamos independentes e por vezes tenhamos a enganosa idéia de auto-suficiência, a gente não sabe como será o dia de amanhã. Não sabemos como será o ano novo que nos espera, por quais provas teremos que passar, por isso é tão importante contar com os amigos certos para momentos tão incertos. Os anos, assim como a própria vida passam muito depressa e quando mal percebemos o tempo já nos levou alguém que amávamos muito e que teremos que aprender a conviver com a falta a partir de então, por isso é tão importante estar feliz e estar consciente das coisas que realmente importam para nossa vida.

Estamos todos de passagem, mas uma passagem bem cara para nos nossos padrões. Talvez seja por isso que nos permitimos ser tomados por essa agitação de corre-corre o tempo todo como se não desse tempo para mais nada nessa vida, sem contar o desafio que é conseguir marcar um ‘horariozinho’ na pedóloga que não aparecemos há meses.

Não dá pra negar que esse clima natalino nos envolve de sobremaneira. Só de ver a felicidade da criançada no colo de algum velhinho que elas nunca viram antes, nos remete de alguma maneira a convicção de que o Natal realmente existe e que seria muito bom se período de festas pudesse ser prolongar por mais alguns dias. O entre e sai das lojas, os enfeites ornamentando as vitrines e a nossa vontade de acreditar que o saldo da conta corrente também será gentil conosco.

A vida da gente merece tanta coisa boa para compensar aquelas que por vezes são inevitáveis, que até vale a pena parcelar as nossas futuras alegrias pelas próximas dezessete vezes, mesmo que com um jurinho suportável. Afinal de contas quem garante que você pagará a última parcela?

A gente só leva dessa vida o que viver e do Shopping Center, aquilo que pagar, no mais está tudo certo. Tudo nessa época do ano parece liberado. Até mesmo o panetone parece ser mais cordial conosco. Parece até nem ter tantas frutinhas espalhadas pelo meio, afinal de contas, o que engorda num panetone são aquelas malditas frutinhas colorindo o miolo. E nem ouse convencer a cabeça de alguém com alguns quilinhos a mais de que não se deva comer panetone em pleno natal. Você pode ficar realmente sem as malditas frutinhas.

A gente não enjoa de ouvir aquele bendito Dingo Bel que nos acompanha desde a infância, quanto mais não se envolver com uma data tão especial como essa. O que importa é que sejamos melhores de alguma forma, e que a vida nos ensine de uma maneira generosa, de como devemos viver a nossa própria vida e que nos conscientize todos os dias de que ela só vale à pena se a compartilharmos com os outros, com respeito e o interesse que é devido. Nossos dedos são entreabertos para que outros dedos de outras mãos se juntem a eles em algum momento, por isso até as coisas mais banais não podem ser desperdiçadas. Não dá para evitar as emoções, mas se pudermos escolher, que sejam as boas, às mais presentes em nossos dias. Chorar faz bem, ainda mais quando resulta em sorrir para alguém que sorri com a gente, ou até mesmo para pessoas estranhas que surpreendentemente entram em nossa vida de alguma forma, e transformam o que parecia comum e previsível no melhor ano ou quem sabe no melhor natal de nossas vidas.

Deus também sabe brincar de Papai Noel e tantas vezes nos dá presentes que levamos muito tempo para entender e que só depois compreendemos o sentido, por isso, é sempre bom ficar atento quando recebermos alguma coisa inesperada de presente ou sem aparente sentido para que no futuro não nos esqueçamos de ser gratos em tudo.

Se você não acredita em Papai Noel, tudo bem, seu filho entenderá que isso realmente não é coisa para adulto, mas pelo menos acredite em Deus, porque Deus acredita em você, muito além das noites de natal.

Feliz natal.

Joel Thrinidad
Enviado por Joel Thrinidad em 30/11/2009
Reeditado em 01/12/2009
Código do texto: T1952863
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