A LEI DA NATUREZA, A TEMPESTADE E A ONÇA PINTADA.

A LEI DA NATUREZA, A TEMPESTADE E A ONÇA PINTADA

Ouvi esta história num Posto de Saúde da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte/MG.

O Sebastião da Silva, um senhor respeitável do alto de seus 72 anos de idade aguardava ser chamado pela atendente de saúde. Eu me encontrava sentado à sala, também, aguardando ser chamado. Tal cidadão, de bengala e guarda-chuva, vestido modestamente, iniciou uma conversa com uma paciente conhecida sua. Ele falou e disse: a Natureza é sábia... Coitado de quem a desafiar em domínio. O rio gosta do medroso, pois, o valente já lhe pertence. O que é da água um dia ela vem buscar e levar para o mar. A Natureza é calma, é tempestuosa, é indomável. Ninguém deve menosprezar a Lei da Natureza. É com se diz: a lagoa quanto mais calma, mais profunda.

Dizia ele: a chuva que cai do céu nem sempre é mansa. Haja vista as últimas caídas em São Paulo, no Rio Grande do Sul, em Belo Horizonte e no Rio de Janeiro. A TV não pára de noticiar tempestades pelo Brasil a-fora. E seca no Nordeste brasileiro. Na última semana árvores e mais árvores destruíram carros, casas e casebres por todo o Brasil. Muitas vidas se perderam na enxurrada. Muitos bens foram destruídos. Em Belo Horizonte faltou luz, no Rio de Janeiro faltou luz. E dá-lhe chuva. Chuva de madrugada, chuva pela manhã, chuva à tarde e chuva à noite. Lembro-me que meu avô já dizia: sol com chuva casamento de viúva. Chuva com sol feijão e milho no paiol... Broa de fubá com café quente anima a gente... Boi na invernada alegra o camarada...

Voltando à vaca fria o Sr. Sebastião da Silva, de pé, escorado na bengala e no guarda-chuva falava em bom tom e áudio: quando eu morava no interior, lá pelas bandas de Governador Valadres/MG, ocorreu uma tempestade de horas e mais horas. O Rio Doce transbordou e invadiu diversos bairros da baixada Placedina Cabral e São Tarcísio. O Rio Figueirinha também transbordou e levou muitos barracões desembocando no Rio Doce. Vários bairros da cidade tiveram suas ruas inundadas e danificadas. E o ancião continuava a falar e ainda disse: certa vez, estando numa pescaria, na roça, foi apanhado por uma forte tempestade de vento e chuva de granizo. Então ele escondeu-se debaixo de um arvoredo frondoso. Passou a noite ao relento, encolhido como pinto dentro do ovo. Ao rebol começou a fazer o café matinal. E então ouviu uns gruídos. Aguçou os ouvidos: ouviu novamente os berros, parecidos com choros, lamentos... Tomado o café saiu de manso, indo trilha a-fora. E não é que ele viu uma onça pintada debaixo de um tronco de árvore. A pintada gemia felinamente. Ele aproximou da bicha. Parou à distância boa. Olhou bem a felina, medindo-a o tamanho. Aproximou-se mais. Criou coragem e tirou o tronco de cima da coitada. Pensou em correr, mas as pernas lhe bambearam o corpo. A onça ficou de pé. Ela caminhou na direção do Sebastião. Ele olhava para a onça... A onça urrou e olhava para ele. Aí... Aí... Ele caminhava alguns passos e olhava para trás... A onça seguia o homem morto de medo... Ele parava de andar... A onça também parava de segui-lo. Por fim ele não tinha mais espaço territorial e a onça achegou-se a ele. Ela sentou-se, encarando o pescador de fim-de-semana. Ele já havia molhado as calças. E a cena durou alguns minutos. E o homem decidiu continuar na trilha até sua casa. E a onça foi atrás dele. Ele chegou finalmente em seu casebre. E a onça também adentrou à choupana, indo postar-se junto ao Sebastião.

Ao fim, a onça achegou-se mais e mais perto do homem de Deus. Ela coçou-se nas pernas do homem estático e de respiração ofegante. Ela lambeu-lhe a mão direita, deu meia volta e saiu de fininho, assim como entrou e ainda abanou o rabo, como dando adeus ao seu benfeitor. É a Lei, é a Natureza é a Onça que agradecem...

F I M

Limagolf