Na feira livre

Amigo 1:

- E aí, beleza?

Amigo 2:

- Beleza, nada, cara. Tô com uma dor de cabeça desgraçada. Além do quê, meu time perdeu o campeonato, né? Minha filha engravidou e o namorado sumiu no mundo. Minha mulher, acho que tá me traindo. Meu filho tá usando droga, fumando erva e outras porcarias. O governo quer me comer pela perna, só sabe tributar, tributar, tributar. O clima, um calor infernal, geleiras derretendo, gripe do bicho X, K, Y. A miséria aumentando, tráfico pra todo lado, ninguém respeita ninguém, cara. Tá foda, irmão. Comprei um eletrodoméstico, cheguei em casa com ele já quebrado e não querem me dar outro, acho que perdi uma boa nota. Esses dias tava meio depressivo, pensei até em suicídio, mas já desisti da ideia. A igreja exigiu que eu pagasse o dízimo, achei uma piada. Tomei uma multa semana passada porque meu extintor tava vencido; eu lá tenho tempo pra ver data de vencimento de extintor! A polícia tá matando a polícia, ninguém sabe quem é o bandido mais. Senadores fazem leis pra se favorecerem. Pra aumentar cinqüenta reais no salário mínimo é uma briga, mas pra aumentarem o próprio salário, é de uma hora pra outra, e ninguém fica sabendo de nada. Minha vizinha não me deixa dormir, com farra e som alto até tantas da matina. Tem muita criança morrendo de desnutrição e aids lá na África, cara, dá até dó. Aqui no Brasil, tudo banalizado, uma balbúrdia. Pra ajudar, um calo aqui no meu pé me incomoda pra caralho e não consigo acabar com ele. Acho também que estão armando pra eu perder meu emprego, aí sim vai ficar bom e blábláblá, blábláblá, blábláblá...

Amigo1:

- Zzzzzzzzzz...

Antônio Carlos Policer
Enviado por Antônio Carlos Policer em 06/12/2009
Reeditado em 12/06/2010
Código do texto: T1963420
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