Violência contra a mulher

Merecemos e podemos promover uma mudança de cultura

Estou meio atrasada pra falar nesse assunto, eu sei, mas fiquei um tempo pensando. No dia 25 de novembro, mulheres foram às ruas se manifestar. Era o Dia Internacional de Luta Contra a Violência à Mulher. Lindo, lindo. Todos os anos critico quem comemora festivamente o Dia Internacional da Mulher, em 8 de março, com rosas, presentinhos e agrados feminíssimos. E tenho também minhas críticas às últimas manifestações.

É que acho muito pouco responsabilizar somente os homens pela violência doméstica. Claro que concordo em gênero, número e grau com punição exemplar contra isso e ainda penso que as leis são muito brandas. Por outro lado, proponho que seja ampliada a discussão para uma proposta de mudança de cultura entre as mulheres.

Um exemplo que me faz pensar dessa forma é minha vizinha. Apanha do marido regularmente. Os filhos também sofrem. Já passei uma madrugada inteira no muro da minha casa com o celular na mão, tentando ligar para a polícia, enquanto ela, trancada com os filhos no banheiro, gritava: “Socorro! Alguém me ajuda! Chamem a polícia! Ele vai me matar!” Mas, sempre depois que passa o sufoco ela tem o displante de dizer que o marido é maravilhoso, amoroso. “É o melhor marido do mundo. Só exagera um pouco na bebida de vez em quando”. E está lá, reformando a casa, feliz da vida.

Sei que há as que passam por terríveis torturas psicológicas para se manter de bico calado e aguentar o dia-a-dia como se estivesse tudo as mil maravilhas. Porém, outro exemplo: uma mulher sabe que é traída, que o marido tem outra ou outras, vive humilhação atrás de humilhação, mas não toma uma atitude porque não pode (?) abrir mão da casa, do carro, das viagens, de uma certa boa vida. Isso também não é uma violência para a qual fechamos solenemente os olhos?

E o que dizer da violência da mulher contra a mulher? Tivemos um caso escandaloso recentemente. A aluna da Uniban que quase foi linchada por uma turba insana onde se via muuuuitas mulheres querendo fazer picadinho da loira de vestido-rosa-muito-curto. Se achamos que uma mlher deve ser surrada porque usa um vestido-rosa-muito-curto concordamos que também possa levar uns tapas do marido de vez em quando, certo?

Por isso coloco em discussão uma mudança radical de cultura. Ainda vejo, entre pessoas da minha convivência, mulheres machistas, que criam seus filhos para ser ‘galinhas’, e que procurem uma segunda mãe ou uma doméstica pra casar. Aquela tradicional Amélia, que vai lavar e passar suas roupas, cozinhar almoço e jantar, deixar a casa um brinco, pregar os botões das camisas e estar pronta pra oferecer sexo quando ele quiser. Não estou fantasiando. Infelizmente ainda existe família que cria seus filhos homens desta forma. E eles não aprendem a amar, aprendem a usar; e daí a encher a cara da mulher de porrada de vez em quando, também não custa.

Nada justifica a violência. Repito que a punição ainda é muito branda para esse tipo de crime. O homem que bate em mulher merece cadeia, por muito tempo. Mas somos nós, mulheres, que devemos mudar nosso posicionamento na sociedade e brigar, incansáveis, por uma mudança de cultura. Parar de nos comportar como objetos de deleite masculino e buscar respeito e diginidade. É o mínimo que podemos fazer.

Giovana Damaceno
Enviado por Giovana Damaceno em 06/12/2009
Código do texto: T1963774
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.