DIA DA FAMÍLIA (8.12.2009)

Prof. Antônio de Oliveira*

Algumas imobiliárias carregam nas cores de suas propagandas:

Imagine a casa de seus sonhos, espaçosa, perto do verde e ao lado do trabalho. / Qualidade de vida e sofisticação acima dos padrões (padrão de quê? e o que é padrão?). / Tudo o que você imagina encontrar no lugar de seus sonhos: localização privilegiada, muito conforto, requinte, lazer, janelas para um paraíso de paisagens divinamente deslumbrantes.

O preço do apartamento, que já aparece lindamente decorado (Visite-o!), não inclui decoração, mas isso não fica claro no imaginário do potencial e eventual comprador. Num shopping de classe alta, uma loja lançava o anzol com esta isca: “Fique trancado no quarto num dos lugares mais lindos do mundo.” Status de trancado, confinado, e ainda ter que pagar caro por isso?

Concessionárias costumam lançar um modelo de automóvel iluminado pela mídia com uma modelo mais estonteante do que o produto à venda. Estonteado, o comprador fecha o negócio, a moça fatura o dela e, num apagão, sai de cena, e o comprador leva só o carro. Miragem. Feitiço. Encanto de sereia. Armadilha. Marketing. Por se tratar de classe social de alto poder aquisitivo, não há considerar isso uma maneira de fisgar verdadeiros otários em efêmeros momentos de exibicionismo. Esse tipo de rede, flor-de-lis dos ricos, é para pegar peixes graúdos. Para peixes miúdos, e para atiçar igualmente o consumismo, atrativos outros... No mais, a sociedade de consumo nos marca, a todos, na testa, com um A, um B, um C, um D, dentro do limite disponível no cartão de crédito, hoje substituindo cheque e cédulas.

Tudo parece se resolver de maneira fácil desde que se tenha dinheiro. Enquanto isso, o produto família, e família feliz, de qualidade, que é o conteúdo que justificaria a compra de um apartamento, mesmo de cobertura, ou um carro, nunca está à venda, pois é um produto de lar, não de residência nem de domicílio. De poder de compreensão, e não de poder de compra nem de barganha. De amor, não de competição. "Eis meu lar, minha casa, meus amores" (Casimiro de Abreu). Uma questão simplesmente de família, indefinível, e concretamente indescritível. Vale a pena construir, mais que uma casa, um lar. Tal a força do vocábulo família que às vezes até adquire, mais do que na referência original, enorme força em expressões figurativas, como: família de palavras, família etimológica, família ideológica, família léxica. E família mesmo, de família consangüínea e de carinho?

Desideratum permanente, família nunca é obra acabada porque alguém diz “já criei meus filhos”, mas é um trabalho (e bota trabalho nisso!) sempre em evolução. “A vida é luta renhida, que aos fracos abate, e aos fortes, só faz exaltar.” Mais importante do que “quem casa quer casa” é “quem casa quer lar”. Não basta idealizar um lar, doce lar, apenas sonhar um ambiente caseiro acolhedor..

Ah! criar família é luta renhida, mas é bom também...

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*Coordenador e Supervisor da Consultoria Acadêmico-Educacional (CAED). Técnico em assuntos educacionais há 30 anos, com experiências no serviço público e na atividade privada. Mestre pela Universidade Gregoriana de Roma. Realizou estágio pedagógico em Sèvres, França. É graduado em Estudos Sociais, Filosofia, Letras, Pedagogia e Teologia. Pesquisador e consultor, presta assessoria, dentre outras instituições, à ABMES, Associação Brasileira de Mantenedoras do Ensino Superior, sendo responsável pela montagem do Anuário de Legislação Atualizada do Ensino Superior. Ministra também cursos de legislação do ensino superior.

aoliveira@caed.inf.br - www.caed.inf.br

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 07/12/2009
Reeditado em 15/12/2009
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