A RELATIVIDADE DO ÓBVIO

A noção do óbvio não se identifica com as verdades absolutas: aprendi que, eventualmente, ocorre-lhe não ser tão evidente; e, mesmo, às vezes é nada óbvio.

Toda dúvida implica no mínimo uma pegunta. A cada pergunta, ainda que pareça absurda, reclama por uma resposta apropriada. No entanto, de um lado, não raro ocorre a suspeita, o temor, a vergonha de se expor ao ridículo; de outra parte, ocorre o entendendimento de que a certas indagações não procede responder, porquanto seriam intuitivamente claras, auto-explicativas. Mas, diria que tal interpretação pode ser equivocada.

Situações dessa ordem vivenciamos de tempo em tempo. Exemplifico.

Certa feita, residindo em um país distante, preparava-me para receber amigos. Solicitei ao auxiliar doméstico que trocasse o papel higiênico do "toillet" social. A instrução, que me pareceu banal, foi colocada em prática imediatamente. Transcorria-se o tempo, até que suspeitei de que a prolongada permanência do serviçal naquele espaço da casa era a denúncia de que alguma coisa estava fora de controle. De fato, surpreendi o zeloso serviçal literalmente trocando o papel: havia removido do rolo mais vazio o que dele restava e, em seu tubo, enrolava o alvo e sedoso tecido do outro rolo, aquele que minutos antes eu lhe havia entregue ...

A partir de então, para mim, o óbio passou a ser algo relativo.

Israel dos Santos
Enviado por Israel dos Santos em 08/12/2009
Reeditado em 13/01/2013
Código do texto: T1967742
Classificação de conteúdo: seguro