O BEIJO DA PRINCESA

Vejo o clarão da lua na superfície plana da lagoa e com olhos sonhadores olho para ela e suspiro. Tento desenhar um rosto na face prateada da lua. Mas as nuvens que passam a sua frente me impedem de terminar o desenho. Olho a minha volta e vejo outros companheiros olhando para a lua. Será que eles também querem fazer um desenho, ou estão olhando o que eu faço? A noite, na lagoa, tudo é mais calmo. Podemos sair do nosso esconderijo e entoar uma musica, numa sinfonia comum que já é conhecida por todos. Os olhos delatam um sonho e o suspiro apaixonado sai do peito que se infla de esperança. Nas historias antigas, a princesa suavemente se abaixa e numa reverencia beija o morador da lagoa e num passe de mágica, surge a sua frente o seu príncipe encantado, que por força de alguma bruxa maligna, provocou esse desarranjo humano, o qual pela força do amor restou uma alternativa para que tudo voltasse ao normal.

O beijo da princesa ainda é esperado nesse reino. Onde a pureza dos sentimentos e os sonhos são cultivados, para que se cumpra o encontro determinado. Interessante como até hoje essa historia é relembrada. É a beleza do sentimento, a ingenuidade do gesto e a certeza da transformação, que une dois seres diferentes para uma união definitiva. O beijo da princesa é a sintetização de um ato divino, mostrando aos homens que “o feio” é uma questão meramente social, que desafia as classes onde o julgamento é frio, desonesto, implacável e interesseiro.

Que se unam, sapos e princesas por todo nosso planeta. Quando sentir o beijo da princesa eu possa fazer cair por terra os preconceitos. Quando sentir o beijo da princesa a sinfonia na lagoa possa ser ouvida nos quatro cantos do mundo, em todas as lagoas, aos ouvidos de todo sapo sentado na pedra no meio da lagoa, desenhando um rosto na lua e torcendo para que haja muitas princesas, muitas lagoas e muitos sapos para receberem “o beijo da princesa”.

Di Camargo, 09/12/2009