Síndrome de Estocolmo

Quando a solidão bate à porta, ela é cruel. Chega sedutora e engana com as palavras. “Eu sou tua amiga”, ela diz. E até que entende de companheirismo. Tanto que quando pega alguém, não larga mais.

Vem sorrateira como o ladrão. E rouba. Vai levando embora até o que não mais se tem. Chega a ser difícil para quem foi roubado falar sobre ela. A solidão leva até as palavras. O sentimento que se tenta expressar fica vazio. Tão oco quanto uma árvore velha ou um móvel comido pelo cupim. São nessas horas que há o desejo de se poder ser os ponteiros do relógio. Acelerar o que não se controla. “O tempo da dor”. Os momentos são tão solitários...

Procura-se gritar, mas a pessoa se cala. A solidão é como o sequestrador. Tem sequestro da alma. Há dor. Também provoca a Síndrome de Estocolmo. “Deixe-me sozinho”, pede o solitário. “Eu a sinto. É como se ela houvesse amarrado meu espírito a um cinto”, explica o sequestrado.

“Quem quer compartilhar este sentimento? Quem quer compartilhar este sentimento? Quem quer...”, convida a pessoa. Sozinha. Não adianta. Fala-se aos quatro ventos. Não há resposta. Nem eco. O mundo se calou para a tentativa de buscar outra vida no planeta chamado Solidão.

Lá... O solitário quebrou o relógio. E se esquecera... Havia se esquecido que o tempo não parou. A solitude insiste em lembrá-lo que por mais que a manhã aqueça, vem a noite para amornar tudo.

“O Sol não se dissolve quando chove. Então, por que a Lua não me aquece quando brilha?”, perguntou o solitário para a única voz que conseguia ouvir – a própria.

Delano Almeida
Enviado por Delano Almeida em 11/12/2009
Reeditado em 11/12/2009
Código do texto: T1971998