Enchente

Falava tão bonito que quase não entendeu a fala do politico quando veio aqui, aliás, nem lembrava das palavras dele só das promessas jamais cumpridas.

A Chuva começou de madrugada e não parou mais. Por precaução colocou seus dois filhos para dormir no beliche na parte de cima.

Não pregou o olho. Ficou de plantão.

E veio o dilúvio, o de Noé durou mas foi um só, o deles é todo ano.

Acordou as crianças, cobriu-os como pode, pegou um guarda-chuva e saiu.

A água estava nos tornozelos, quando chegou ao final da rua encobria os joelhos.

No caminho encontrou a mãe e os irmãos que vieram em socorro. A mãe foi com os netos para sua casa. Ela com os irmãos voltou para tentar salvar algum pertence e ajudar aos vizinhos.

Logo amanheceria e tudo ficaria mais fácil.

A noite fora de terror. Muito choro. Gritos de desespero. Quando clareou o dia chuviscava a visão da tragédia fez com que por um segundo, todos ficassem quietos observando.

Logo voltaram à labuta contar os prejuízos, verificar o quanto conseguiram salvar.

Vez enquando passa boiando um colchão levando junto suas histórias de amor, uma cadeira querendo contar quem nela sentava, até uma geladeira fechada cheia de segredos.

Quando entrou em sua casa e viu seus pertences, lembrou daquele fogão submerso e cheio de barro agora, que ganhou de sua sogra como presente de casamento. A cômoda que seu saudoso pai deu de presente, sem condições de nada dar a ela reformou a sua lixou, envernizou, colocou puxadores deixando novinha era o móvel que mais gostava, tinha histórias suas e de seus pais.

Coisas de gente humilde são sempre assim, com histórias para contar.

Se Deus quiser hoje não chove mais não.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 11/12/2009
Reeditado em 13/01/2011
Código do texto: T1973208
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