Quem é Mahler

Os dias de muito sol provocam alguma coisa diferente em minha cabeça; sinto-me bem relacionado com o sol. Descubro que até meu psiquismo muda com a excessiva claridade; você diria ser óbvio, pois, os dias sombrios se acompanham de estados depressivos; bem melhor que um dia cinzento é um dia de chuva...Os dias cinzentos têm efeito deletério, é você quem diz...Os dias de sol são fantásticos para tudo...Para carpir ao sol, assentar tijolos, mexer a massa de cimento, furar cafofos e levantar alicerces...Carregar sacos de 60 quilos na cabeça descarregando caminhões e... o sol comendo! Que programa mais atraente haverá do que um dia de sol? Não quero dizer que não gosto de dias sombrios; lógico, que nesses certos dias, não se pode ouvir qualquer música...evidente, que o Réquiem de Mozart não pode ser celebrado a pleno sol...Isso me lembra um filme intelectualizado..."A Plein Soleil...”, filme de 1960, de René Clement com Alain Delon e Marie Laforet, e ainda, um outro da mesma época..."Moderato Cantabile"... com Jeanne Moreau e Jean Paul Belmondo...Hoje, seria capaz de achar esses filmes grossa besteira, porque... Hoje é um dia de sol...Um dia para se ouvir solos de saxofone e cantar em sons agudos ou graves, tentando abafar o marulho das ondas; curioso como o sol tem um efeito estranho sobre a pele...Permite pensar em tudo ou mesmo pensar em nada, como uma carícia, que mobiliza os poros, as reentrâncias e saliências, de acordo com a pessoa que se expõe...Nunca ouvir Debussy num dia de sol...Mahler pode ser ouvido...Quem é Mahler?

Encerro com a lembrança de Michel Picoli no filme Coisas da vida, de 1970, vendo o barco afastar-se e Romy Schneider à sua espera...Inútil espera...Foi uma imagem sutil para um tipo de morte abominável...Pobre Michel Picoli...Eu sempre misturo o próprio ator com seus personagens...Pobre Michel Picoli!