Um círculo de mulheres (1)
Avaliação e propósitos



                    



 
O som ultrapassou as paredes da cozinha saindo pela porta e pela janela, alcançando o jardim dos fundos e se espalhando pelo Universo . A voz era de Simone, entoando a canção de Paulo Debétio e Paulinho Rezende, Uma nova mulher.
 
Que venha essa nova mulher de dentro de mim,
Com olhos felinos felizes e mãos de cetim
E venha sem medo das sombras, que rondam o meu coração,
E ponha nos sonhos dos homens
A sede voraz, da paixão
Que venha de dentro de mim, ou de onde vier,
Com toda malícia e segredos que eu não souber
Que tenha o cio das onças e lute com todas as forças,
Conquiste o direito de ser uma nova mulher
Livre, livre, livre para o amor....quero ser assim, quero ser assim
Senhora das minhas vontades
E dona de mim livre, livre, livre para o amor, quero ser assim,
Quero ser assim, senhora das
Minha vontades e dona de mim....

 
Última reunião do ano, retrospectiva e avaliação. O que faremos deste grupo após  nove anos? Pensamos nisso enquanto relaxavamos o nosso corpo coordenando a respiração e permitindo a ação do espírito. Já tínhamos sido preparadas anteriormente, lendo silenciosamente e também em voz alta, os leitores se alternando, a Oração das direções de Evan maya e Ma Ho. Foi nos pedido que escolhessemos o trecho mais tocante e a escolha individual praticamente se tornou coletiva – escolhemos os últimos versos, síntese de toda oração:
 
Senhor, ensina-nos  a sabedoria das estações
E o segredo da noite e do dia
Ensina-nos o significado das nuvens
E os sentimentos das ondas
Ensina-nos o poder do Vento
E o silêncio das montanhas.
Ensina-nos a tranqüilidade e a ação. O amor, o sorriso
A dor e o desespero. Então ensina-nos a encontrar você em nós mesmos.
Obrigada. Amém.

E os tempos se uniram e pudemos relembrar todas aquelas oficinas que nos tocaram. Oficinas em que rimos e oficinas  em que choramos. Oficinas onde os corações fechados e sangrando puderam se abrir porque estavam certos de que seriam acolhidos. Oficinas em que pintamos as caras, os quadros e o sete. Oficinas em que usamos máscaras para nos despir delas. Para aprendermos humildade lavamos os pés uma das outras .Para aprendermos o desapego destruimos trabalhos artísticos reveladores, queimando-os em uma fogueira.E assim foi se desfiando a colcha que levamos tanto tempo a construir em busca de um novo bordado. Mas ninguém quis um novo bordado. Todas querem a continuidade , estabelecendo novas regras, buscando novos caminhos. Afinal esse é um grupo de buscadoras e é isso que continuaremos a ser. Buscando novos horizontes, novos caminhos, o encontro com verdades mais profundas.

Houve um momento em que tememos pela continuidade do projeto. Assim, não mais que de repente alguém partiu em busca de novos caminhos e os que ficaram se sentiram desamparados. Mas as conquistas do grupo tinham sido fortes e novos líderes surgiram para manter de pé e caminhando o projeto tão gratificante.

E aí, a tarde findando, nos reunimos para um gostoso lanche –
Conceição, a dona da casa; Marlene e Rosangela, suas parceiras na organização. E em ordem alfabética, nós, as outras buscadoras: Beth,Célia,Cidinha, Dirce, Lucinha , Vânia and me, personagem praticamente ausente no ano de 2009 mas que propôs estar presente no abençoado ano de 2010. Que o Universo aceite esta decisão e concorra para que ela seja executada. Lavras, Jardim Floresta, cozinha da casa de Conceição em 13 de dezembro de 2009, dia de Santa Luzia.