GALO CAPÃO

É tão engraçado viver. Vida, viver! Será que essa coisa tão significante para a continuação da existência na Terra acontece da mesma maneira para todos? No seu sentido natural, quero atentar. Ter vida, gerar vida, continuar a espécie e depois morrer. Bastante insosso.

Nas minhas manias de não deixar meu cérebro em paz, fico matutando sobre isto. Se à noite, com insônia? Que nada! Eu não durmo; eu morro todas as noites e ressuscito na manhã seguinte, sem nenhum compromisso com horário. Isto é: um dia será assim. Quero acordar e me levantar quando bem quiser. Já consegui eliminar o relógio do meu pulso há décadas. Nem que seja por alguns meses eu quero ter este prazer, assumir esta responsabilidade irresponsável e magnífica. Tão bom!

Agora, questão de trinta dias, nasceu minha primeira neta, Alice. Um trenzinho de bonita e vou continuar vivendo nem que seja somente na cor dos seus olhinhos azulados. Estou apaixonado. Me desculpe a Isa, mas nunca estive tanto! Mas com tendência a crer na evolução, na matéria, fiquei um tanto acabrunhado, pois me lembrei de uma teoria “supermaterialista”. Em síntese e espremendo bem se resume nisto: o amor despendido pelos pais aos filhos não passa de um baita egoísmo.

Vou passar para quem tiver a paciência de continuar lendo. Segundo esses “pensadores” o egoísmo existe na nossa existência e nesta conotação: no sentido de proteger, manter e perpetuar a espécie. Proteção, dar o melhor de tudo aos rebentos ou não haver nada no mundo melhor do que eles seria atos de egoísmo para que os seus genes continuassem vicejantes. A eternidade não seria única e sim uma corrente, uma sucessão de eventos intermináveis em muitos dos seus descendentes. Se assim passo a crer, alguma coisa hoje em mim já deve ter estado no Coliseu de Roma assistindo aos gladiadores se matando e leões famintos comendo cristãos. Incrível! Inimaginável! Muita loucura! Ou não?

Se eu cuidar bem dos meus filhos e filhas, depois dos netos e assim por diante (se houver tempo) estarei na verdade mantendo vivos alguns dos meus genes e assim serei eterno e diverso. Muito frio para ser realidade. Mas o pior disso tudo é que se alguém acreditar na genética, na perpetuação das espécies e na ideia evolucionista, vai encontrar um fundo de verdade nisso aí. Ah! Deixe pra lá!

Eu estava dizendo da Alice. Minha netinha chegou e me trouxe uma experiência totalmente nova. Conversei com alguém que me disse que uma experiência sem definição na vida é quando nascem os filhos; o nascimento dos netos supera. Concordo!

De manhã ela aparece lá no meu quarto. Tem a indelicadeza de me acordar e é esta a única vez em que sou acordado e não fico mal-humorado. Isto quando a avó não a coloca escarrapachada em cima da minha barriga e ela fica ali igual a um bichinho de pelúcia. Na maior tranquilidade.

Ah! Tem mais: eu já estou ensinado uma musiquinha maneira para que ela aprenda cantar. Não tem nada a ver com música para ninar, apesar de eu ter absoluta certeza dela também não saber qual é a diferença. Primeiro quero deixar bem claro que não sei cantar; nem ela. Gosto muito de músicas e nem tanto as do gênero que sempre canto para ela dormir: “Assassinaram o camarão”. Já ouviu? Pagodão dos quentes. Negócio pra criança nenhuma de um mês e pouco mais não gostar. A única coisa que eu me nego terminantemente é ensinar-lhe como rebolar aquele ritmo.

Tô que nem galo capão. Há! Há! Não sabe o que é? Então vamos recorrer mais uma vez à nossa velha e manjada enciclopédia de cultura inútil.

Bem, pelo menos você sabe o que é um animal capão. Também não! É todo aquele do qual se retiraram os testículos. Assim há boi, porco, gente e vamos adiante. Mas, galo? É sim! Lá na roça o pessoal dizia que nada melhor para criar uma pintainhada do que capar um galo e entregar-lhe aquela tarefa aos seus cuidados. Gavião, cara, vira uma arara de tanta raiva.

Eu nunca vi um dessa natureza. Se não for verdade, eu não assumo e nem tão pouco sou tão crente neste papo nem que fosse verdade purinha. Dou conta do recado de ficar com a Alice sem passar por aquele vexame e me transformar num deles. E quer saber mais? Nem precisa muito mais, não!

Pô! Me passou pela cabeça neste instante uma ideia muito maluca, mas ninguém precisa espalhar por aí. Se uma pessoa depois de avô fica besta que nem eu, é porque está escasseando a testosterona. Não?

Bota atenção! (como dizia meu sempre lembrado pai): se o galo passa agir assim é porque lhe surrupiaram aquele hormônio. Então este comportamento de avôs não seria um sinal de que já estaríamos fraquejando? Meu Deus do Céu! Como eu posso imaginar alguma coisa assim tão matemática em relação às coisas biológicas? Não existe ciência exata na medicina e afins e além do mais o que acontece com o galo é problema dele e dos eunucos. Deu mole...

Vou arranjar um galo capão e sentar Viagra pela goela dele abaixo. Quero ver se ele vira a folha... Hum! Vira nada! Como é que ele pode virar se “faz” de maneira diferente?

Ah! Vou parar! Agora não sei se Isa vai censurar este texto e não deixá-lo ir para publicação. Bem-feito pra mim! Mas há dias que o meu cérebro está infernal...

Dbadini
Enviado por Dbadini em 18/12/2009
Código do texto: T1984923