Maridos em defasagem

Há muitos anos, na época dos casamentos encomendados, comuns na nobreza, não havia a ansiedade de se procurar mulher ou marido, pois, a família se encarregava do projeto. Assim, Maria Antonia filha da Imperatriz da Áustria, em 1777, aos 12 anos, já era forte candidata ao casamento com o neto do Rei de França, o futuro Luis XVI. Se o casamento deu certo, não sabemos, o fato é que se conta a história de sua paixão pelo famoso chevalier sans peur et sans reproche, o conde sueco Axel Fersen. Fersen nada fez para alertá-la e impedir que sua cabeça fosse parar no cesto da guilhotina; imaginem uma mulher que estudou música com Glück, que deve ter-se inspirado nela para compor a dança dos Espíritos bem aventurados, do Orfeu e Eurídice. Já contei a história dos casamentos suburbanos, em que o quarto da noiva, ficava exposto à visitação pública com as famosas colchas de cetim, com uma boneca cheia de babados. Havia ainda, muitos casamentos por correspondência, em que os namorados trocavam cartas e fotos retocadas, em que usavam os pseudônimos, geralmente pomposos, como, por exemplo, Kátia Sandra Montenegro, ao seu dispor; era hábito de adolescentes em geral. A história do perigo de casamento era tão séria, que os pais alertavam aos rapazes, de que poderiam namorar, mas não deveriam entrar na casa da namorada, porque isto selava um compromisso difícil de largar. Muitos anos depois, com o grito de independência das mulheres, que se apropriaram dos chamados direitos masculinos, o casamento ficou mais complicado, porque o percentual de homens tímidos, que se casavam para resolver problemas sexuais, deixou de existir pela liberação total. Por outro lado, o casamento passou a ser um processo de escolha mais requintado, em que as pessoas se unem por um sentimento forte, sem a conotação da curiosidade erótica, satisfeita precocemente nos relacionamentos de namorados.