O NATAL E O MITO DO PAPAI NOEL

Entre todas as inverdades, o mito do Papai Noel é uma "pequena mentira" que preenche a imaginação das crianças. Eu gostava de acreditar naquele velhinho, que vinha de tão longe, para alegrar e atender os pedidos da criançada. A manhã de Natal era uma festa. Na véspera, a curiosidade quase não me deixava dormir. Fiquei meio frustrada quando soube que o tal Papai Noel era, na verdade, meu pai e minha mãe (porque será que é PAPAI e não MAMÃE?)

No meu tempo de criança, não havia tanta miséria, não existiam tantas crianças sem lar. Não havia a mídia da propaganda, para que a gente desejasse mais do que poderia ter. E não existiam essas lojas, abarrotadas de brinquedos lindos e coloridos, para me fazer cobiçar o que meus pais, com certeza, não poderiam pagar. Portanto, meus Natais eram felizes, me contentava com o pouco e pronto. Por isso, sempre achei que o mito do Papai Noel deveria ser cultivado, até que a criança tivesse condições de entender que ele, na realidade, não existia.

Hoje, porém, as coisas estão muito diferentes. O mundo se encheu de presentes. As lojas exibem presentes caros que fazem a criança espichar os olhos e os pais arrepiarem de pavor. O Natal virou, pura e simplesmente, uma data cujos únicos beneficiários são as fábricas e as lojas. Além do mais, a tecnologia avançou tanto que, hoje, a criança deseja adquirir coisas que seriam dos adultos. Temos aí os celulares, os not-boocks, os MP (3, 4, 5, 6...) e por aí vai. E aí é que começa o drama. E é então que a diferença entre ricos e pobres se torna abismal. Para quem tem, o Natal é feliz. Mas, se considerarmos que a grande maioria das nossas crianças provém de famílias pobres e miseráveis, o Natal virou infelicidade, frustração, desengano.

Aí me pergunto: será válido continuar a incentivar o mito do Papai Noel? O que passa pela cabecinha de uma criança pobre ao ver que o bom velhinho trouxe presentes só para o coleguinha que é rico? Será que Papai Noel não é bom como dizem? Porque beneficia uns e esquece dos outros?

Acho que é o caso de repensar nossos conceitos e atualizarmos essas "pseudo-verdades". Como já disse, acho lindo o mito do Papai Noel, a espera, a expectativa e a alegria que o bom velhinho causa na criança. Mas, se já temos mais da metade das crianças que não são atendidas, será que já não está na hora de acabarmos com essa mentira? Se a criança pobre, muitas vezes em orfanatos ou nas ruas, sofre o ano inteiro pela falta de carinho, pela ausência da família, será justo impingir mais uma desilusão numa vida já tão descolorida e sem perspectivas? A meu ver, os Natais estão se tornando desumanos, porque só servem para encher o bolso de quem já tem tanto. E depois, numa época em que quase já se pode ir a Lua num ônibus espacial, porque acreditar num velhinho que sai de uma região gelada e ainda usa um transporte tão arcaico? Sem falar que entra pela chaminé (de quem tem), na calada da noite, como um ladrão.

A continuar esse mito, creio que estaremos contribuindo para formar uma geração de desajustados, infelizes e invejosos. Sem contar que, com a criminalidade dominando as cidades brasileiras, o bom velhinho não está livre de levar um tiro, confundido com um ladrão!

É um assunto para se pensar...

Giustina
Enviado por Giustina em 25/12/2009
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T1994899
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