O BONSAI E A VIDA

Um dia desses visitei uma feira de flores em Atibaia.

Lá acabei comprando um bonsai. Escolhi o mais mirradinho, não por questão de economia, mas por achar que dificilmente alguém o compraria, já que pelo mesmo preço dava pra comprar outras arvorezinhas, com flores até.

Mas não me arrependi, já que a arvorezinha se mostrou forte e com potencial pra crescer mais e mais.

Outro dia meus pais e meu filho estavam conversando na cozinha, e resolvi ir pra lá também. Fato raro, a família dividindo o mesmo ambiente. Enquanto a gente conversava, aproveitei pra mexer com o bonsai.

Pra quem não sabe, o bonsai é uma arvorezinha cultivada em um vaso. Em muitos casos, pra ela adquirir a forma que desejamos, a gente pega e corrige a direção dos galhos com fios de arame ou fios de nylon. A idéia é deixar o bonsai com uma aparência de árvore em miniatura.

O que isso tem a ver com a vida? A seguir eu explico.

A LIÇÃO DO BONSAI (OU O BONSAI E A VIDA PARTE II)

É muito legal perceber o que água e luz podem fazer. Especialmente na vida de um bonsai.

Minha arvorezinha mirradinha aos poucos vai ganhando uma aparência bem bonitinha. São vários os brotinhos surgindo, às vezes diariamente. Em poucos dias os brotos viram galhos e a arvorezinha vai se desenvolvendo.

Como os novos galhos às vezes tomam direções inesperadas, toca eu ir lá e amarrar um novo fiozinho de nylon pra corrigir a direção do galho, tentando fazer a arvorezinha adquirir a aparência que eu quero.

Isso me levou a comparar o bonsai com a vida.

A primeira comparação que eu faço é como muitas vezes a gente se esquece de que não é preciso muita coisa para ser feliz. No caso do bonsai, apenas água e luz do sol (e um pouquinho de fertilizante de vez em quando).

Será que realmente precisamos adquirir tudo aquilo que desejamos pra estarmos felizes? Será que nos dias de hoje não nos preocupamos demais com o "ter" e nos esquecemos do "ser"?

A segunda comparação é com relação às mudanças de direção que acontecem em nossa vida. Estamos preparados pra lidar com essas mudanças? Como lidar com elas?

Respostas a seguir.

NOVOS RUMOS (OU O BONSAI E A VIDA PARTE III)

Como eu falei antes, pro bonsai ir adquirindo a forma desejada, a gente vai corrigindo a direção dos galhos com arames ou fios de nylon.

É bom fazer isso com cuidado, porque se a gente força demais corre o risco de quebrar o galho da arvorezinha.

Creio que com a vida é a mesma coisa. A gente nasce, se desenvolve, nosso tronco aponta para uma direção. Do tronco principal brotam galhos que seguem por aqui ou por ali.

Temos a opção de deixar tudo como está ou ir corrigindo a direção de nossos galhos, ou seja, os rumos de nossa vida, de maneira que possamos atingir nossos objetivos, fazendo com que a nossa vida adquira a forma desejada.

O porém é que às vezes nossos galhos, ou os rumos de nossa vida, vão por direções bem diferentes daquilo que esperávamos.

Nessas horas precisamos tomar uma decisão: tentar a todo custo retomar a direção idealizada, sob o risco de danificar (ou até mesmo quebrar) o galho; ou evitar o risco e simplesmente aceitar as mudanças.

Das duas opções, eu fico com a terceira. Creio que devemos chegar a um ponto de equilíbrio. Se a direção seguida pelo galho não é a que mais nos agrada, podemos sim mudá-la, podemos trazê-la para mais próximo do nosso objetivo, porém sem nos esquecermos de que nem sempre será possível retomar o rumo original.

Ser inflexíveis, querer ter o controle de tudo a todo custo, pode significar uma grande frustração no futuro. No caso do bonsai, pode significar a quebra e a conseqüente morte do galho.

Ser flexíveis, saber que a vida está em nossas mãos somente até um certo ponto, e que a partir dali só o que resta é aceitar as mudanças, é sinal de bom senso.

Além disso, uma mudança de rumo não significa necessariamente algo negativo. Podemos nos ver obrigados a aceitar muito de contragosto essa mudança no princípio, mas um dia, lá na frente, descobrimos que foi o melhor pra nós, e que aquEle que está verdadeiramente no comando de tudo realmente estava certo.

Basta confiar e permitir que os novos brotos se desenvolvam.

Como no bonsai.

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Nota do autor: Texto originalmente publicado em meu blog, em outubro de 2006, em três partes.