Meu primo, pescador de morcego - aconteceu Turvânia

Meu primo, pescador de morcego - aconteceu Turvânia

Todo mundo já ouviu uma história de pescador, pois não? Sempre aquele peixão que escapou, aquele outro que fez a pescaria se tornar um desafio hercúleo e, ainda aquele dia em que tinha tanto peixe que dava para pegar com a mão.

Entre aqueles que experimentaram os prazeres e os desafios de uma pescaria, não existe alguém que não tenha, enfim, sua própria história de pescador.

Também tenho a minha e quero dividir com vocês.

No tempo de rapazinho, morando em Turvânia, a pescaria era um dos passatempos preferidos da galera, ali pelo meio da semana, quando não havia nada para fazer a noite e uns peixinhos para fritura ou pirão vinham bem.

A pescaria era sempre feita no ribeiro dos Moleques, que passa bem perto da cidade.

Se o pescador visasse aos peixes de de escamas menores, o lugar da pescaria era feita mais acima, entre a ponte da rodovia e a ponte da saída para a cidade vizinha, trecho onde avultavam os lambaris graúdos, a piranha amarela, as piabas do rabo vermelho pela tarde e, os lobós e as traíras ao anoitecer. Chorão não contava, porquê, como diz o outro, chorão não é peixe, mas comida de gato...

Se o caso, porém, era de pegar uns peixes de couro, então o caso era de descer mais abaixo e se amoar nos barrancos pouco acima da ponte dos Martinez, pra fisgar bagres erados e mandis, pra fazer caldo ou pirão.

E se alguém quisesse fazer uma pescaria mais interessante, o negócio era da tal ponte para baixo, onde se achavam piaus de três pintas e as matrinxãs, para experimentar o prazer de sentir o peixe brigar, correndo de um lado para o outro no poço, resistindo à chascada.

Ao que interessa: o causo.

Certa tarde, eu, Velúzio Neto (o apresentador do programa "Aurora Sertaneja", de quem já falei aqui) e Anézio, seu vizinho, juntamos as varas de bambu e descemos para o ribeirão, para buscar uns lambaris para o frito de tira gosto da cerveja.

Pouco acima do poço de captação da estação de tratamento de água, começamos a pescaria. E não demorou muito pra começar a fisga dos lambaris azuis bem grandes que tinham por ali. Era uma tardinha de setembro e, como a pescaria estava rendendo, fomos ficando. E sem que notássemos, a noitinha chegou. Daí, resolvemos levar os bagres chorões até grandinhos que estavam batendo na isca.

Mas, enjoei da pescaria e fiquei por ali, com a única lanterna que tínhamos, iluminando para os colegas iscarem os anzóis, que estavam amarrados em linhas longas e finas e, chumbada pequena, própria para a água de corredeira.

Velúzio insistia na coisa, inquieto. Certo momento, iscou o anzol com capricho e arremessou na direção do leito do ribeirão. De repente só ouvi o barulho de uma violenta chascada, que cantou no vento. E logo, escutei o barulho do pescado bater no chão pouco, vindo depois os gritos do pescador, solicitando que eu iluminasse o bichão fisgado.

Quando iluminei, que surpresa! Nem acreditava no que o meu primo tinha fisgado...

Depois daquilo, resolvemos ir embora e eu lhe disse que se contasse sobre o último "peixe" que tinha pescado, a turma não ia acreditar e, ele ia fisgar com fama de pescador mentiroso.

No domingo, a turma estava reunida, tomando uma cervejinha e, fazendo um churrasco na esquina da pra Manoel Hilário. Conversa vai, conversa vem, a despeito do meu alerta, Velúzio não resistiu e resolveu contar o fato.

Entretanto, mal concluiu a história e, começou a vaia e uma algazarra danada em torno dele. E Todos os presentes começaram a lhe chamar de exagerado e mentiroso, como se podia esperar.

Mas, também pudera: contou o fato que eu e Anésio testemunhamos - numa pescaria no ribeirão dos Moleques, tinha fisgado um...

...Morcego!

É! Um morcego!

Devia ser um daqueles morcegos insetívoros que estava, sei lá..., voando por cima d'água em busca de presas, na boca da noite e, que se enrolou na linha fina de nylon que não havia percebido...

Podem acreditar! Rapaz, deu um trabalho danado pra desenrolar o bicho da linha...

Não me acreditam? Ah, tá.

Deixa pra lá...

.............................

Em 13.03.2011 - Acabo de ver uma chamada do programa Fantástico, da Rede Globo, em que anunciam a exibição de raras imagens em alta resolução da captura do momento em que um morcego em pleno voo, "pesca' um peixe (que me pareceu bem semelhante ao lambari) com as garras. Pronto! Tudo resolvido em favor do Velúzio Neto, que pode cobrar de todo mundo mais respeito com sua história...

A outra crônica sobre o programa "Aurora Sertaneja", apresentada pelo Velúzio Neto está aqui: http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1804265