Um ano repleto de gargalhadas

Há um bebê por nascer e, meu Deus!, quanta carga em seus frágeis ombros! Mais um movimento dos ponteiros, mais um suspiro de adeus e aí vem ele, recebido com fogos e afagos. Porque assim o determinaram os homens, chega 2010, com sua mochila de esquecimentos e seu embornal de amanhãs. E nossos olhos o miram como se dele dependesse nosso destino, prenhe de promessas que só de nós dependem.

E vem com data para morrer e deixar para trás tanta coisa que todos os anos é jogada no limbo do esquecimento, na ilusão de que também morreu e acabou. Mas não acabou, porque há rodas que têm engrenagens e um moto contínuo que as faz girar, não importa a data ou a vontade. Por isso é preciso desejar e continuar o caminho.

Que você não passe em branco em 2010, nem que seja para uma só pessoa. Ou animal. Uma flor, quem sabe, mas que fique sua marca, mesmo que quase incógnita.

Que se lembrem de você ou de seus versos. Melhor: que lembrem de você por causa de seus versos, ainda que não tenha usado a magia do alfabeto para registrá-los. Basta que tenham sido feitos com um gesto, um olhar, um momento, apenas, de entrega. E reconhecidos, principalmente pelas almas não tão afeitas a reconhecer seus versos ou a poesia da vida. Se nada disso acontecer, que você se lembre deles e queira, sempre de novo, fazê-los nem que seja para a brisa que sopra sem perguntar quem a merece.

Que fiquem pegadas de seu andar. Muitas pegadas, não em linha reta, pois sabemos que a reta é apenas a pior distância entre dois pontos, mas que tracem longos e misteriosos caminhos, com um ou outro labirinto em seu traçado para honrar o mistério da existência.

Que, apesar de tudo, você se orgulhe do ritmo de sua caminhada por ter respeitado o tempo que não gosta da pressa e da pressão, pois ele tem todo tempo do mundo para si.

Não sei se lhe desejo um 2010 cheio de realizações. É simples: as pessoas confundem realização com acúmulo de tudo, menos de felicidade. Prefiro lhe desejar um ano recheado de gargalhadas, e que brotem em qualquer lugar, não importa o que as pessoas pensem a respeito.

É, é isso que lhe desejo: um ano repleto de gargalhadas. O resto? Bem, o resto virá junto.