O Velório

A morte ronda a fria noite.

Na madrugada úmida, ressoam ruídos surdos e distantes.

Lápides brotam da grama verde como flores em um jardim.

Árvores tremem com o vento que passa silvando por entre galhos e folhas.

Na morgue, em sua cama definitiva como se estivesse dormindo, aguarda paciente, calmo a hora de em seu quarto eterno descansar.

Murmúrios, lamentos, choros e despedidas, não abalam o sono de quem esta indo embora.

Preces são entoadas em uníssonas vozes, como um coral a interpretar belas canções.

Cenas que se repetem, parentes e amigos que há muito não se vêem, aqui se encontram e relembram velhos momentos.

Cafés, bolos, sanduiches, salgadinhos, canapés, cerveja, refrigerante, e até uísque, fazem o clima de tristeza virar quase uma festa de aniversário, só falta música. A bebida traz lembranças de momentos alegres, felizes, sorrisos tímidos sem gargalhadas, no rosto de algumas senhoras sorrisos maliciosos, saudades íntimas, segredos que jamais serão revelados, por mais belos que tenham sido.

São as últimas lembranças, derradeiras despedidas, a maioria só se reencontrara, em outro velório.

Então, até o próximo

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 01/01/2010
Código do texto: T2006325
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