ANTES DE ACONTECER

Ela rebuscava seu anseio dentre mandíbulas escaldantes, ele apenas prezava cada momento se propiciando em seu seio. Eram chamas que forjavam a mais pura e extensa proeza de um casal, orgasmos a flor de deliciosas carícias despontando a luxúria animal. Apenas os toques lentos e suaves de sinos despertaram a insanidade.

Eram nove horas de um novo dia, era dia, era manhã e agonia. Não havia mais tempo para desespero, a traição estava por um dedo,vozes que caluniavam e subiam a grande escada ecoavam ao longe, e o pérfido pássaro cantava sua melodia de desespero. O audacioso e inesperado marido subia com furor a escada, cada passo mostrava o momento do véu da verdade ser rasgado.

Silêncio e espera, medo e calafrios, tudo se tornara suspeito, até o andar das formigas no canto da parede era duvidoso. Como reagir em tamanha situação, eram os pensamentos dela saindo de cena. E, como enfrentar a criatura que insistia em derrubar a frágil porta.

De repente, não mais que de repente escutou-se ao lado uma voz angelical. Por entre os gretes da porta escancarada via-se seu marido aos “ti-ti-tis” com outra mulher.

Ela era como o fogo e como a rosa mais vermelha já colhida, de beleza e de astúcia tão belas que sua voz foi um chamado dos deuses. Ele era seu marido e estava também a traindo, o que pensar se pensamentos não curariam mais a alma surpresa e ferida.

A amargura foi como feitiço que retorna ao feiticeiro, a gaveta se abriu, ao lado de seu não mais amado amante o fogo se tornou ódio, a paixão se tornou lástima e a compreensão se tornou decisão.

Apenas se ouviu um estouro como de um tiro! Um estrondo! Era pólvora e um gatilho disparado. Não houve nem mesmo tempo de seu companheiro tomar alguma medida.

Ela caiu sobre o chão frio de inverno, toda pálida e sem vida. O branco de seu vestido se confundiu com a imensidão do vermelho, e bem à sua porta, o olhar desesperado do marido vendo uma cena dramática e sem explicações, já que ele apenas se tornava dono de algo tão esperado pelos dois um dia. Dono daquele pequeno e aconchegante hotel de beira de estrada.

Autor: Danilo Padovan

Daykon
Enviado por Daykon em 24/07/2006
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