ONDE A PORCA TORCE O RABO!
Os técnicos da empresa não conseguiram consertar o computador e foi preciso chamar um especialista de fora para resolver o problema.
- Um absurdo!
O técnico chega. Não traz maleta à mão e, também, não usa óculos de grau. Apenas um “ray-ban” da 25 de Março esconde os olhos. Com as mãos nos bolsos do jeans em frangalhos, pergunta à secretária:
- E aí, o que qui tá pegando?
Assustada, a moça – que não o vira chegar - se encolhe na cadeira. O ar refrigerado parece tornar o ambiente mais frio ainda.
Na parede um quadro famoso de Portinari chama a atenção do rapaz.
- E então? Telefonaram pra eu vir aqui olhar um computador...
- O, o, o senhor?!
- Ih, para com isso, nada de senhor. Senhor tá lá no céu, minha filha...
- Tá bom, tá bom. – apesar da aparência, aquele moço transmitia certa confiança – o computador está ali na sala.
- Tudo bem, deixa eu dar uma olhada.
- Vamos lá, então. O dr. Afrânio daqui a pouco volta e vai querer esse computador funcionando.
Entram na sala. Outra pintura na parede atrai o técnico.
- Já vi esse quadro antes...
- É de Portinari.
- De quem? Não é do seu patrão, então?
- O computador é este aqui...
- Péra aí, não precisa sair. Deixa eu dar uma olhada. É coisa rápida. Huuummmmm...!!!
Sacando do bolso traseiro da calça uma pequena chave de fenda e, sem mesmo tirar a tampa da máquina, por uma fresta lateral ele aperta um pequeno parafuso..
- Liga.
- O que?
- Liga o computador aí, moça!
- Mas já!!!
- Tá pronto!
- Mas tá funcionando mesmo?
- Liga aí, vai, que é pra testar.
Ligou, funcionou.
- Quanto é o serviço?
- Mil pilas.
- Mil reais?!
- É isso aí, moça!
- Olha, vou falar com o dr. Afrânio, ele não deixou esse dinheiro todo comigo... ou o senhor quer esperar?
- Não, não. Tudo bem. Eu passo amanhã.
- Tudo bem, então o senh... você passa amanhã.
- Tchau!
- Tchau!
Dez minutos depois o dr. Afrânio voltou ao escritório.
- E então, dona Isaura, o técnico chegou?
- Chegou e já se foi?
- Como assim?
E a secretaria conta tudo o que aconteceu.
- O quê?! Mil reais??!!..
- Pois é doutor, mil reais só pra apertar um parafuso...
- Faça o seguinte, ele vai passar aqui amanhã pra receber, não vai?
- Vai.
- Telefona e peça para ele especificar todo o serviço executado numa nota fiscal... Só quero ver a cara desse salafrário quando estiver na minha frente abaixando o preço do serviço.
- Vou ligar já, doutor.
No outro dia, oito horas em ponto e lá estava o Genival – que Genival era o nome do técnico em informática – recebendo a paga do seu serviço, e logo saindo, que serviço não lhe faltava.
Na sala, o dr. Afrânio relia, admirado, pela terceira vez a nota fiscal:
1. Apertar o parafuso................ R$ 1,00
2. Saber qual parafuso apertar... R$ 999,00
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3. TOTAL.............................. R$1.000,00
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