RUMO AO MAR

Quem mora em Porto Alegre, a maioria, se desloca para o litoral. Dia trinta e um a cidade estava quase vazia, fui levado a crer que a estrada estaria tranqüila. E estava, porém com muitos carros e a viagem, que deveria levar duas horas, levou cinco. Nada de mais para quem estava com espírito de boa paz.

Um amigo, como eu, não passa um dia sem andar na Rua da Praia, no calçadão do centro de Porto Alegre. O motivo dele: - Vamos ao zoológico? E lá saímos outro dia falando sobre músicos, mendigos, boazudas, sujeitos que viram estátuas.

- Correndo muito?

- Parado muito, que eu corro atrás suando parado.

A praia tem sua fauna de figuras diferentes.

No carro, pai, mãe, filha, 10 anos e uma sobrinha,10, entravam na cidade praiana quando, na calçada, a vislumbraram.

- Um avião? Não era. Talvez tivesse sido.

A senhora loira, muito branca, uma barriga notável mas não muito saliente, caminha com grande desenvoltura. O corpo não tem as harmoniosas curvas que tivera, mas ainda é capaz de sustentar um apertado maiô branco que deixa cair, acima de cada perna, uma polpa de sobras entre a virilha e o maiô. Nos pés um tênis com solado alto sem meias e ali no “triângulo”, uma sustentação explicita para a tese de que mulher gosta mesmo é de dinheiro pois até certa “brecha” foi feita com formato para passar cartão de crédito.

- Como é que pode? Disse a filha.

A mãe, muito séria:

- Se ela tem coragem, o que é que tem?... deixa ela.

- Tem MUITA coragem... observa a sobrinha, dando uma entonação especial ao “muita”.