Dos Amores Prováveis

Aos domingos ele saia de casa para andar a esmo pela cidade. A semana era tão barra pesada no seu trabalho que eram raros os sábados com disposição para caminhadas. Sábado era dia para lavar a alma nos livros, nos filmes e no Jazz, seus benditos vícios.

Naquele domingo ia caminhando solitário e pensativo, como sempre, até que se deparou com a mulher da sua vida. Congelou e tremeu de baixo à cima. Ela estava bem na usa frente, sorrindo o mais belo sorriso do mundo, com o mais lindo olhar do mundo, e despertava nele as melhores sensações e intenções do mundo. De longe, a olhou por alguns minutos e pensou : “Que pena que não posso falar com ela...seria tão bom...” e continuou sua caminhada.

Durante a semana começou a ver a garota em mais partes da cidade. No trajeto para o trabalho, ao mercado, nos atalhos e rotas alternativas que pegava para fugir da rotina... ela estava por ali, sempre saltando a seus olhos.

Pensava ele: “Será que ela iria gostar de mim? Será que ela gosta de Quintana, Coltrane...quem sabe Tarantino, um bom vinho... whisky, sushi... palavras cruzadas?”. Imaginava-se com ela pelas noites, nos bate papos da vida, nos eventos da empresa, a conhecia detalhadamente em sua imaginação. E era tudo sempre bom. “Ah, se ela gostasse...”.

As semanas se passaram e suas caminhadas dominicais não eram mais à esmo, elas tinha roteiro e objetivo. Sentia-se inspirado, caminhava feliz e sorria ainda mais quando a via pelas ruas, mas não podia chegar até ela. Resumia-se a admira-la e partir. “Que lástima” – pensava.

Mais algum tempo se passou e a situação foi mudando, piorando. Não encontrava mais aquela moça tão bela, sua paixão, com tanta facilidade. Durante a semana não a via mais no caminho para o trabalho e nem nos atalhos; aos domingos, à pé, rareavam as vezes em que olhar mais lindo do mundo lhe acariciava o coração. Até que chegou o dia em que nunca mais a viu. Para sua completa infelicidade, ela não estava mais em lugar algum.

Com o coração partido, demorou à perceber, ou não queria acreditar. Não podia conceber que nunca mais veria a mulher da sua vida uma outra vez, nunca mais teria a chance de olhar para a garota do Outdoor.

Ps: Publicado Originalmente na Culturanja de 20 de Dezembro de 2009.

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