Os que sabem o caminho

Setenta e dois milhões para cada um dos dois ganhadores da Mega Sena e não sou um deles! Enquanto escrevo – é 1º de janeiro – o noticiário mostra a tragédia dos deslizamentos de terra em Angra do Reis. Casas, pousadas, gente e a esperança de um novo ano soterrados sem que houvesse tempo para levar nada. Felizes os que conseguiram levar sua vida.

Difícil não comparar as duas situações: milionários instantâneos de um lado e órfãos de lutas e amores de outro. Essas vidas mudaram em poucos minutos no último dia de 2009. Para extremos opostos! Quantos dos atingidos apostaram na Sena e ansiavam por uma vida melhor? Na pior das hipóteses, estavam preparados para não serem contemplados, nunca para perderem o que conquistaram. Quantos morreram com bilhetes não conferidos nos bolsos? Os ganhadores nutriam alguma esperança real ou poderiam se misturar aos apostadores de Angra sem serem notados? O que farão agora? Tentarão comprar a felicidade sem saber que ela gosta de enganar os incautos com imitações e falsificações à venda em cada canto glamuroso do mundo?

E os que perderam quase tudo, se batizarão de perdedores ou serão exemplo de superação e de resiliência?

Quantas centenas de vezes você já ouviu que o que importa é o ser e não o ter? E quantas milhares de vezes já viu a busca da felicidade ser atada ao dinheiro? À aquisição de bens, ao acúmulo de patrimônio e à ilusória e maldita segurança que o patrimônio traz? Quantas vezes se deu conta que sentimentos são asfixiados e relacionamentos destruídos exatamente porque sua base é o patrimônio ou assim o deseja alguém?

Para muitos, só é possível ser feliz ganhando na Sena, para outros, mesmo sem ganhar, possuir solos, casas, bens, tudo o que é efêmero. Ambos, se deixarem, deixarão apenas aquilo que valeu a pena: seus bons exemplos e aquilo que doarem de si. Morrerão com uma definitiva constatação: dinheiro e patrimônio, se houver amor, muito amor, poderão ajudar alguém a ser feliz; por si só, trazem apenas discórdia e infelicidade.

Mas há aqueles que escutam outro chamado: “Não junteis para vós tesouros na terra...”. Poderão até juntá-los, mas os usarão para o bem deles e de muitos. Esses sabem o caminho.