Papéis Queimados

Poderia jogar fora. Feng Shui. Indícios do passado, que sentido havia em guardar aquilo.

Tinha sido escrito no século passado, não tinha dado conta de como eram velhos.

Guardou como um pirata de filmes, guarda a seu tesouro. Como todo tesouro estaria perdido no fundo de algum lugar inóspito ou enterrado numa praia de uma ilha qualquer, a espera de ser descoberto.

Este teve um encontro com seu destinatário, foi desenterrado e entregue.

Agora motivo nenhum havia em mantê-lo consigo, virara um baú do tesouro vazio, oco.

Pegou em suas mãos, eram apenas papeis velhos amarelados pelo tempo, escritos com uma velha maquina de escrever, cheios de sentimentos, só faziam sentido para quem escreveu. Como se fosse um ritual religioso, uma liturgia leu a cada um mais de uma vez, por eles passou delicada e suavemente as mãos, dedicou um longo silencio, como se orando estivesse.

Colocou-os em um vaso chinês, levando ao pequeno jardim no fundo de sua casa, com cuidado dispôs um sobre o outro. Riscou um palito de fósforo, firme e decidido jogou sobre os papéis, viu devagar as chamas consumindo, letra a letra, sílaba a sílaba, tanto sentir, tantas saudades, tanto querer, tanto amor, tantas histórias. Lágrimas como rios tempestuosos, fazem meandros em suas faces. Chora baixinho, murmura alguma coisa.

A fumaça e o vento carregam as cinzas em espirais, como se cada pedacinho de cinzas fosse um pensamento, um sentimento seu.

Não há esperança, não há volta.

Isidoro Machado
Enviado por Isidoro Machado em 07/01/2010
Código do texto: T2016934
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