Emilia Emilia Emilia

Naquele tempo ir fazer pic nic em algum morro que rodeia o bairro onde morávamos era seguro e divertido. Criança se diverte com tudo, até na hora de voltar. A meninada hoje em dia só tem bom humor na ida, na volta está todo mundo de bode, dando chute na sombra, morrendo de sono. Emilia era, ainda é, amiga das minhas primas e era só ter um pic nic e lá estava ela, lindinha nos seus cabelos loiros e lisos e sorriso luminoso. É, eu tenho boa memória, e daí? O tempo passou, a vida mudou, eu me mudei, mudei de cidade e Estado e nunca mais vi a Emilia, na verdade, Maria Emilia. Quando voltei a encontrá-la estava uma moça ainda mais bonita e com o mesmo sorriso luminoso e simpático. Aquele flertar inocente, quase bobo da infância saiu do limbo do esquecimento. É, eu sei que disse que tenho boa memória. E daí? E aquele namoro em que ela não sabia que era minha namorada, aconteceu. Emilia tinha um sonho dourado; casar, ter filhos e poder dormir no sofá à tarde, embalada na trilha sonora do “vale a pena ver de novo”. Trabalhar é coisa de provedor e provedor é o homem, ponto. Emilia era a mulher perfeita, linda e do lar por vocação. Numa noite, estávamos no portão da casa dela e a mãe apareceu. Eu, engraçadinho e boca grande fui fazer um gracejo e disse para a mãe dela:

- Vou roubar a sua filha. Foi o bastante. Para a mãe da moiçola aquilo era um pedido formal de casamento; para mim, apenas um roubo anunciado, se é que seria. Os dias se passaram e eu tive que voltar para minha casa. Aquela fatídica frase ficou em algum canto, totalmente esquecida. Esqueci, sim. E daí? Quem disse que tenho boa memória? Mas so eu esqueci, a mãe da Emilia, louca para despachar a dita cuja, danou-se a preparar o enxoval da filha. Minhas primas, que estão mais para Amigo da onça do que para primas, promoveram um chá de panela. Segundo elas, um sucesso. Emilia pediu demissão do emprego já para ensaiar a sua futura vida doméstica. E eu, inocente, na noite, violão, buteco e... Emilias....