Metáfora da guitarra

Um dia ganhei uma guitarra, eu já havia tocado noutras, mas nunca nessa. Essa era nova para mim, inexplorada, de uma beleza incrível, diferente e super macia. E com ela comecei a tirar uma música, muito difícil, mas também muito gostosa de se escutar. Era muito gostoso de tocar, muito tesão tirar aquela música. Mas no início eu só podia tocar de quando em vez e quando o fazia era a coisa mais perfeita da minha vida, mas muitas vezes não poder tocá-la me deixava estressado.

Depois de algum tempo eu tive a oportunidade de tocá-la sempre e a música se tornou ainda mais difícil, mas eu gostava de tocá-la, porque eu estava com a minha guitarra, aquela guitarra que tanto quis, que tanto sonhei. Mas as vezes, quando tocava, alguns barulhos me perturbavam, algumas coisas me tiravam a concentração de minha guitarra e com isso eu começava a errar, mesmo as partes da música que eu já havia aprendido, e muitas vezes por não querer aceitar que o erro era comigo eu colocava a culpa na minha guitarra, dizia que ela que estava ruim. E com isso comecei a me estressar cada vez mais e tocar minha guitarra com mais força, muitas vezes com mais força do que ela aguentava. Depois de um tempo uma corda se arrebentou e novamente pus a culpa na guitarra. Arremendei a corda (que nunca mais seria a mesma) e continuei tocando, até acontecer a mesma coisa com outra e outra corda.

Depois de algum tempo o barulho estava perturbador demais para que eu aguentasse e nada mais do que eu tentava tocar saia como queria. Não tocava mais com carinho, não tocava mais com gosto, não tocava mais da forma que a minha guitarra merecia ser tocada, por isso a quebrei. E depois de fazê-lo, saí bravo e nervoso, achando que fora a melhor coisa a ser feita, achando que era o certo a ser feito, pois achava que a culpa era da guitarra.

Depois de mais algum tempo tudo se tornou silêncio, tudo se tornou paz e harmonia e eu comecei a pensar no que tinha feito e no porque tinha feito. Comecei a sentir falta da guitarra, mas eu a quebrei. Apareceram e ainda aparecem outras guitarras, mas aquela era a MINHA guitarra e não queria outra. Mas não podia mais tê-la, porque a quebrei e joguei fora e quando me lembrava do porque a quebrei, me sentia triste, pois sabia que a culpa fora minha, não da guitarra.

Mas não existe mais remédio. Agora outro cara está com ela, outro cara a consertou e a está tocando e não há mais nada que eu possa fazer para tê-la de volta.

A vi novamente esses dias, mas ela não é mais a mesma. Uma guitarra nunca mais será a mesma depois de quebrada.