É tarde, muito tarde
O papel branco, intocado,
Não me inspira.
É tarde e eu não tenho sono, como muitos dos iguais, vago pela noite insone repleta dos problemas.
Vejo na televisão mais desastres naturais, como se não fossem naturais os desastres.
Água que invade a cidade, que é vida e que mata.
A terra que é guarida, tira a vida dos pobres.
Em Brasília, outro escândalo, nem me espanto.
Vejo o filme já gasto de tão repetido, desligo o aparelho. Tenho de encontrar motivos para dormir, e, quiçá, sonhar.
Mas o cotidiano me assalta, pensamentos muitos invadem meu cérebro e o sono, que de parco se esvai, não durmo.
Ponho-me diante da tela fria, como se fosse uma lápide, do meu computador.
O que vejo diante de mim é o branco do documento sem palavras. Anseio preencher os espaços, mas os dedos estão emudecidos. Não escrevo o turbilhão de pensamentos pela simples impossibilidade física de acompanhar o voo livre dos devaneios.
Além disso há a preocupação estética, lógica, ética, ortográfica.
Tem o dia de amanhã que celeremente se anuncia, mas o sono não se manifesta. Sinto-me cansado, mas não há sonolência alguma.
É tarde, mas se eu dormir agora perco a hora.
Decido ocupar os vagos do papel eletrônico com outra petição, pois sem resolver meus problemas próprios, sigo a resolver os alheios...
Ah! Se dependesse só de mim...
Onde foi mesmo que guardei meus bons momentos?
Agora não importa mais.
Tenho que me concentrar no caso do meu cliente.
É tarde demais.