É tarde, muito tarde

O papel branco, intocado,

Não me inspira.

É tarde e eu não tenho sono, como muitos dos iguais, vago pela noite insone repleta dos problemas.

Vejo na televisão mais desastres naturais, como se não fossem naturais os desastres.

Água que invade a cidade, que é vida e que mata.

A terra que é guarida, tira a vida dos pobres.

Em Brasília, outro escândalo, nem me espanto.

Vejo o filme já gasto de tão repetido, desligo o aparelho. Tenho de encontrar motivos para dormir, e, quiçá, sonhar.

Mas o cotidiano me assalta, pensamentos muitos invadem meu cérebro e o sono, que de parco se esvai, não durmo.

Ponho-me diante da tela fria, como se fosse uma lápide, do meu computador.

O que vejo diante de mim é o branco do documento sem palavras. Anseio preencher os espaços, mas os dedos estão emudecidos. Não escrevo o turbilhão de pensamentos pela simples impossibilidade física de acompanhar o voo livre dos devaneios.

Além disso há a preocupação estética, lógica, ética, ortográfica.

Tem o dia de amanhã que celeremente se anuncia, mas o sono não se manifesta. Sinto-me cansado, mas não há sonolência alguma.

É tarde, mas se eu dormir agora perco a hora.

Decido ocupar os vagos do papel eletrônico com outra petição, pois sem resolver meus problemas próprios, sigo a resolver os alheios...

Ah! Se dependesse só de mim...

Onde foi mesmo que guardei meus bons momentos?

Agora não importa mais.

Tenho que me concentrar no caso do meu cliente.

É tarde demais.

Almir Ramos da Silva
Enviado por Almir Ramos da Silva em 14/01/2010
Reeditado em 14/01/2010
Código do texto: T2029818
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